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Peça inédita de Genet traz ator na corda bamba
Poema dedicado a acrobata ganha a cena em monólogo
JOSÉ ORENSTEIN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Uma figura sombria, de modos solenes, que tem por profissão andar nas alturas. E que sabe que toda noite pode ser sua
última. Eis o funâmbulo, um
acrobata que percorre fios de
aço a desafiar plateias de circo,
fiando-se apenas na sua capacidade de equilibrar-se.
Foi por um artista desses
que o consagrado escritor e
dramaturgo francês Jean Genet se apaixonou. E foi a ele -o
argelino Abdallah- que dedicou o poema "O Funâmbulo",
em 1958. Meio século depois,
na voz do ator João Paulo Lorenzon e sob direção de Joaquim Goulart, as palavras de
Genet ganham os palcos do
Sesc Avenida Paulista. Mas não
sem muito esforço e paciência.
É que, para conseguir os direitos do texto de Genet, Lorenzon e Goulart travaram verdadeira batalha, silente e dura
como o ofício do funâmbulo. Os
herdeiros da obra do francês
são um artista plástico, um ex-artista de circo e uma poetisa
japonesa, que moram cada um
em um lugar do mundo.
Lorenzon, além de reuni-los,
teve que provar a eles que sabia
andar no arame, mostrar os
croquis do cenário (assinados
por Daniela Thomas), discutir a
tradução para o português, entre outras exigências. "Além de
talento e vontade era preciso
ter fôlego", conta o ator, que tomou aulas de equilibrismo e até
instalou um fio em casa.
Depois de um ano de conversas, os detentores cederam os
direitos por um valor simbólico. "Era um discussão ideológica e não financeira", diz o ator.
Vencido este desafio, Lorenzon e Goulart dedicaram-se à
conversão de poesia em material dramático. Costurando referências plenas de lirismo do
amor "delicado e violento" de
Genet aos desafios do artista
que se vê em cena, Lorenzon e
Goulart compuseram este tênue monólogo que equilibra-se
no fio tenso da paixão -por um
homem e pela arte.
O FUNÂMBULO
Quando: sex., sáb. e dom., às 20h30;
até 01/11
Onde: Sesc Avenida Paulista (av.
Paulista, 119; tel. 3179-3700)
Quanto: de R$ 5 a R$ 20
Classificação: 16 anos
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