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CINEMA
Marceline Loridan-Ivens aborda em longa suas memórias de Auschwitz
Filme toca a "dor do esquecimento"
MARCOS STRECKER
DA REPORTAGEM LOCAL
É uma reflexão sobre a memória, sobre a "dor do esquecimento", que a cineasta Marceline
Loridan-Ivens faz em "O Pequeno
Campo de Bétulas", filme que é
exibido hoje dentro do Festival do
Cinema Judaico.
Marceline, que nasceu em 1928,
lançou este longa-metragem aos
75 anos. Não é um filme de maturidade, mas uma obra que ajusta
contas com seu passado, com o
pesadelo que viveu quando foi enviada em 1943, aos 15 anos, ao
complexo nazista de Auschwitz,
mais especificamente ao campo
de Birkenau, cuja tradução dá título ao filme.
Para lidar com essa dolorosa
tempestade de emoções, ela escolheu a via da ficção e do lirismo.
Mostra uma anciã solitária que
mora em Nova York e, depois de
breve passagem por Paris, onde
revê amigas sobreviventes do Holocausto, parte para uma descida
ao inferno de suas reminiscências
nos escombros do campo nazista.
Lá, passeia como assombração e
vai encontrar algum sinal de vida
e esperança em seu oposto: um jovem alemão, descendente de um
coronel da SS, que tenta se purgar
da nódoa em sua origem.
Marceline, que evita a todo momento o olhar auto-indulgente,
esteve no Brasil em 1991, quando
participou de homenagem prestada pela Mostra Internacional de
Cinema ao seu marido Joris Ivens
(1898-1989), um dos grandes nomes do documentário. Viveu à
sua sombra, no bom sentido, e fez
depois da morte do marido um
filme que funciona com uma metáfora da própria vida dela, que
entrou em sua "última etapa", como declarou no lançamento.
Não é o que de melhor já se fez
sobre o tema, apesar do peso do
testemunho. Trata-se de um quase-documentário, um fluxo confessional com a densidade da personagem que conheceu o horror.
É uma pequena obra delicada, extremamente pessoal, com um
olhar feminino, irônico e bem-humorado sobre a memória e a
vida que teimam em desaparecer
com o tempo.
O Pequeno Campo de Bétulas
La Petite Prairie aux Bouleaux
Produção: França/Alemanha/Polônia,
2003
Direção: Marceline Loridan-Ivens
Com: Anouk Aimée, August Diehl, Marilu
Marini, Zbigniew Zamachovski
Quando: hoje, às 20h, no Centro da
Cultura Judaica (r. Oscar Freire, 2.500, tel.
0/xx/11/3065-4333)
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