São Paulo, domingo, 13 de outubro de 2002

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Locais menos conhecidos de São Paulo abrigam marcos arquitetônicos e históricos

Tesouros escondidos

ALEXANDRA MORAES
SHIN OLIVA SUZUKI

DA REDAÇÃO

Há pequenos tesouros espalhados por São Paulo, apesar da tendência a procurar grandes obras arquitetônicas apenas nos prédios públicos mais conhecidos da cidade.
Estilos e necessidades de épocas e pessoas diversas foram delineando edifícios e entornos que têm, além de história para contar, a assinatura de arquitetos respeitados ou marcas da presença de imigrantes na cidade.
Das colônias estabelecidas aqui, um dos principais expoentes é o bairro do Bom Retiro, na região central da cidade, que chama a atenção por um conjunto urbano herdado de imigrantes árabes, italianos, judeus, gregos e, mais recentemente, coreanos.
"São cantinhos simpáticos para visitar num domingo. Não é [um bairro" adensado, ainda é aquela arquitetura dos casarios baixos, as calçadas são largas, não tem camelô, é outro mundo", diz a arquiteta e urbanista Regina Monteiro. "A partir do restaurante Acrópoles, de comida grega, dá para fazer um bom passeio. Além do almoço agradável, você descobre esses lugares charmosos."
Nos arredores, o arquiteto Abilio Guerra destaca o Conjunto Comercial do Bom Retiro, obra do arquiteto polonês Lucjan Korngold, "desconhecida até mesmo dos arquitetos, mas que é um conceito de comércio de rua muito interessante, apesar de um pouco degradado", diz.
O conjunto, com entradas pelas ruas José Paulino e Ribeiro de Lima, ocupa 7.000 m2 e se divide em seis blocos que possuem ruas internas suspensas, amplas, para que "pudessem proporcionar a todos os blocos condições de iluminação e circulação excepcionais", previstas no prospecto de divulgação do edifício, lançado, segundo Guerra, provavelmente no início da década de 70.
Os prédios expressam hoje a faceta mais conhecida do bairro, rico em comércio popular, e registram um projeto que integraria lojas, escritórios e residências.
Outro exemplo de influência estrangeira na cidade é apontada pelo arquiteto Eduardo Della Manna, que destaca a Vila dos Ingleses, conjunto de casas encravado em um quarteirão entre a avenida Prestes Maia e a rua Cantareira, nas proximidades da Estação da Luz. Como o próprio nome insinua, as 28 casas dispostas no formato de um "L" seguem estilo próprio de vilas operárias vistas em Londres no século 19.
As janelas com mais de 1,5 metro de comprimento e os grandes sótãos são marcas dessa arquitetura, adotada por ocasião da vinda de engenheiros britânicos para a construção da estrada de ferro Santos-Jundiaí no final da década de 1910. Atualmente, boa parte das casas são ocupadas por escritórios comerciais.
Também na região central, o edifício Viadutos é uma das principais obras do arquiteto Artacho Jurado. A urbanista Raquel Rolnik traça um paralelo entre o trabalho do paulistano e o do catalão Antoni Gaudí, responsável pelo projeto da igreja Sagrada Família, em Barcelona. "Artacho Jurado, como Gaudí, buscava um estilo próprio. Mas, claro, devemos guardar as devidas proporções", afirma.
Inaugurado em 1955, o prédio possui as características de glamour e imponência que evocavam a cenografia hollywoodiana e marcaram outros projetos de Jurado, como os edifícios Cinderela e Bretagne, estes no bairro de Higienópolis.
Outra preciosidade oculta está no subsolo do Teatro Municipal, que, segundo o professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP Nestor Goulart, deveria merecer mais atenção por parte do público.
Antes um depósito para materiais utilizados nas apresentações, o ex-porão foi batizado de Salão dos Arcos e hoje é mais bem aproveitado como espaço para exposições e espetáculos.
Goulart indica como ponto alto os arcos que dão nome ao local, feitos de alvenaria, característicos de outras obras do arquiteto Ramos de Azevedo, como o prédio do Departamento do Patrimônio Histórico da cidade.
Mais distante do burburinho central, o edifício do Instituto Biológico é um dos principais marcos do art-déco em São Paulo, construído na década de 30 e tombado pelo Condephaat no ano 2000. "Além do edifício em si, o auditório é bárbaro, as cadeiras e as arandelas são art-déco", enumera Regina Monteiro. " É um prédio que não é tão paparicado. Temos que cobrar, para garantir que ele nunca suma."



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