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TEATRO
"Chão de Barros" estréia hoje com poemas do autor
Versos encenam biografia do pantaneiro Manoel de Barros
ROGÉRIO EDUARDO ALVES
DA REDAÇÃO
Versos normalmente não cabem no palco. Escorregam ou fogem das bocas dos atores numa monótona ladainha. Para enfrentar o desafio, o diretor Frederico
Foroni, 25, escolheu contar no teatro a vida do poeta pantaneiro
Manoel de Barros.
O resultado está em "Chão de
Barros", peça que estréia hoje no
Centro Cultural São Paulo. Para o
texto, Foroni usou apenas versos
do poeta, mas não necessariamente da forma em que aparecem nos livros.
"Procuramos fugir do declamatório, colocando a poesia em função do teatro. Uma das saídas foi
fragmentar os poemas do autor
em função da história", explica.
Rica na reinvenção (e desordenação) da língua, deslocando os
termos para outros contextos e
com isso enviesando o discurso
gramaticalmente aceito e esperado, a obra de Barros encontra no
palco preparado por Foroni uma
delicada linha narrativa.
Usando como base os três primeiros e mais biográficos livros
do autor, a peça mostra a vida do
menino nascido em Corumbá em
1916, que partiu para o Rio em
busca de uma formação acadêmica em direito e acabou poeta-fazendeiro que escreve ao sabor das enchentes pantaneiras sobre as
coisas ínfimas e inúteis.
Personagem de si mesmo, o
poeta (Roberto Leite) está em cena com seu duplo (Márcio Araújo) e divide as atenções com seus alter egos, criados por seus versos
como se num romance.
Lá estão, entre outros, os andarilhos Bernardo da Mata (Fábio
Ferretti) e Andaleço (Alfredo Rollo), além da mitológica Maria Pelego Prego (Suzy Pereira).
No cenário, projeções de cenas
de "Limite", de Mário Peixoto, e
"Em Busca do Ouro", de Chaplin,
trazem uma variável colocada sutilmente pelos textos do autor, a
crítica social. "Queremos nos
apoderar das imagens e recontextualizá-las para falar de uma outra
coisa, seguindo o movimento que
Barros faz no texto", diz Foroni.
Trabalho de formatura do diretor, "Chão de Barros" ficou em
temporada no Teatro Laboratório
da Escola de Comunicações e Artes da USP no final de 2001.
De lá para cá, já sofreu muitas
alterações e pode sofrer outras,
garante Foroni. Durante sua graduação em artes cênicas montou
"A Bicicleta do Condenado"
(2000), de Fernando Arrabal, e
agora escolhe um poeta para encenar. "A poesia é uma linguagem
que fala do sentimento de uma
maneira que outras não fazem."
CHÃO DE BARROS - VIDA E OBRA DO
POETA MANOEL DE BARROS.
Dramaturgia e direção: Frederico Foroni.
Com: Roberto Leite, Márcio Araújo, Fábio
Ferretti, Suzy Pereira e Alfredo Rollo.
Onde: Centro Cultural São Paulo - sala
Paulo Emílio Salles Gomes (r. Vergueiro,
1.000; tel. 3277-3611). Quando: de ter. a
qui., às 21h; até 13/2. Quanto: R$ 12.
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