São Paulo, terça-feira, 14 de janeiro de 2003

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TEATRO

"Chão de Barros" estréia hoje com poemas do autor

Versos encenam biografia do pantaneiro Manoel de Barros

ROGÉRIO EDUARDO ALVES
DA REDAÇÃO

Versos normalmente não cabem no palco. Escorregam ou fogem das bocas dos atores numa monótona ladainha. Para enfrentar o desafio, o diretor Frederico Foroni, 25, escolheu contar no teatro a vida do poeta pantaneiro Manoel de Barros.
O resultado está em "Chão de Barros", peça que estréia hoje no Centro Cultural São Paulo. Para o texto, Foroni usou apenas versos do poeta, mas não necessariamente da forma em que aparecem nos livros.
"Procuramos fugir do declamatório, colocando a poesia em função do teatro. Uma das saídas foi fragmentar os poemas do autor em função da história", explica.
Rica na reinvenção (e desordenação) da língua, deslocando os termos para outros contextos e com isso enviesando o discurso gramaticalmente aceito e esperado, a obra de Barros encontra no palco preparado por Foroni uma delicada linha narrativa.
Usando como base os três primeiros e mais biográficos livros do autor, a peça mostra a vida do menino nascido em Corumbá em 1916, que partiu para o Rio em busca de uma formação acadêmica em direito e acabou poeta-fazendeiro que escreve ao sabor das enchentes pantaneiras sobre as coisas ínfimas e inúteis.
Personagem de si mesmo, o poeta (Roberto Leite) está em cena com seu duplo (Márcio Araújo) e divide as atenções com seus alter egos, criados por seus versos como se num romance.
Lá estão, entre outros, os andarilhos Bernardo da Mata (Fábio Ferretti) e Andaleço (Alfredo Rollo), além da mitológica Maria Pelego Prego (Suzy Pereira).
No cenário, projeções de cenas de "Limite", de Mário Peixoto, e "Em Busca do Ouro", de Chaplin, trazem uma variável colocada sutilmente pelos textos do autor, a crítica social. "Queremos nos apoderar das imagens e recontextualizá-las para falar de uma outra coisa, seguindo o movimento que Barros faz no texto", diz Foroni.
Trabalho de formatura do diretor, "Chão de Barros" ficou em temporada no Teatro Laboratório da Escola de Comunicações e Artes da USP no final de 2001.
De lá para cá, já sofreu muitas alterações e pode sofrer outras, garante Foroni. Durante sua graduação em artes cênicas montou "A Bicicleta do Condenado" (2000), de Fernando Arrabal, e agora escolhe um poeta para encenar. "A poesia é uma linguagem que fala do sentimento de uma maneira que outras não fazem."


CHÃO DE BARROS - VIDA E OBRA DO POETA MANOEL DE BARROS.
Dramaturgia e direção: Frederico Foroni. Com: Roberto Leite, Márcio Araújo, Fábio Ferretti, Suzy Pereira e Alfredo Rollo. Onde: Centro Cultural São Paulo - sala Paulo Emílio Salles Gomes (r. Vergueiro, 1.000; tel. 3277-3611). Quando: de ter. a qui., às 21h; até 13/2. Quanto: R$ 12.



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