São Paulo, terça-feira, 14 de janeiro de 2003

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ANÁLISE

Cineastas abriram caminho para a retomada nacional

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

Sem "Socorro Nobre", não haveria "Central do Brasil". Sem "Notícias de uma Guerra Particular", possivelmente não existiriam dois dos filmes brasileiros mais importantes do ano passado ("Cidade de Deus" e "Ônibus 174") ou pelo menos teriam sido bastante diferentes.
O ciclo de 12 documentários batizado "Os Irmãos Salles João e Walter, documentaristas", mais do que revalorizar uma obra relativamente pouco conhecida, mostra como se forjou a retomada do cinema brasileiro. Uma fração considerável do sucesso dessa fase vem da atuação dos Salles na produtora Videofilmes, não só investindo no documentário, mas também apresentando um projeto de reflexão sobre o país.
O nome da mostra, "Os Irmãos Salles", causa estranheza. Afinal, uma das vocações mais bizarras do cinema é juntar irmãos atrás das câmeras (os Lumière, os Coen, só para citar alguns), mas essa vocação não se repete no caso de Walter e João, que jamais dirigiram um filme juntos. Apesar de estarem a toda hora trocando idéias, são independentes e cultivam visões de mundo diferentes. Mas há entre os dois, de fato, uma parceria forte e uma vontade de (re)valorizar o documentário dentro do audiovisual brasileiro.
A mostra cobre tanto os primeiros trabalhos como os mais recentes. Um dos destaques da programação é o curta documental "Socorro Nobre" (1995), de Walter Salles, narrando a história de Maria do Socorro Nobre, presidiária que escreveu uma carta ao artista plástico Frans Krajcberg. A produção acabou inspirando Walter a escrever o argumento básico de "Central do Brasil". É de Maria do Socorro, aliás, o primeiro rosto que surge no filme, ditando uma carta para Fernanda Montenegro.
Presente na mostra está um dos filmes brasileiros mais importantes dos anos 90, mas pouco visto por não ter chegado aos cinemas. "Notícias de uma Guerra Particular" (1999), de João Moreira Salles e Katia Lund (não por acaso, também co-diretora de "Cidade de Deus"), é o retrato mais preciso já feito da situação da segurança pública no Rio de Janeiro, uma reflexão sobre as consequências da guerra entre os traficantes de drogas encastelados nas favelas e a polícia na vida de todos eles (traficantes, policiais e moradores).


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