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São Paulo, sábado, 14 de junho de 2003

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ERUDITO

Sem palavras na Sala São Paulo: a consagração de Arnaldo Cohen

ARTHUR NESTROVSKI
ARTICULISTA DA FOLHA

A platéia hiperlotada ovacionou Arnaldo Cohen, e não foi para menos. Surpreendente, ou até inexplicavelmente, era a primeira vez que o pianista se apresentava na Sala São Paulo, com a Osesp. Quer dizer: para além do lindo concerto de Mozart (1756-91), os aplausos eram pelo conjunto da obra.
Até o vivido Cohen, habitualmente tão à vontade no palco, parecia emocionado no fim. Até ele, que gosta de conversar informalmente com o público, ficou sem palavras. Sem anunciar, tocou de bis a "Ária" da "Suíte Antiga" de Alberto Nepomuceno (1864-1920). A escolha tinha duplo sentido: uma citação de seu disco mais recente, só com peças de compositores brasileiros, e um comentário às alegrias da tradução musical, um piscar de olhos depois da "Suíte Mozartiana" de Tchaikovski (1840-93), que a Osesp apresentou no começo, regida por John Neschling.
Levou algum tempo para a orquestra entrar na música. O semestre vai passando e não há quem não sinta a pressão. Só no último movimento a Osesp chegou àquela energia e esmero com que abriu a temporada. Faltou, talvez, um pouco de champanhe e charme? Problemas nos sopros, óbvios. Para compensar, um espetacular solo do "spalla" convidado Ya'acov Rubinstein.
A verdadeira festa de Babette estava por vir. (Mais especificamente Babette von Ployer, a aluna para quem Mozart escreveu o "Concerto nš 17".) Arnaldo Cohen é um pianista do som tanto quanto da idéia: um ideal de som, intenso e bem definido, que ele preza a ponto de só tocar em seu próprio Steinway. Do jeito como ele fez os "pianíssimos", no limite sempre audível do inaudível, e do jeito como desfiou escalas e arpejos, no limite jamais descarrilhado do descarrilhado, a gente se convence de que era o ideal do próprio Mozart.
Mais bonito que tudo: o tempo. Os aplausos foram pelo conjunto da obra. E é preciso uma obra nas costas para tocar assim.


Osesp
   
Onde: Sala São Paulo (pça. Júlio Prestes, s/nš, tel. 3337-5414)
Quando: hoje, às 16h30
Quanto: de R$ 16 a R$ 52


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