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ERUDITO
Peça tem direção cênica de Naum Alves de Souza
"Melodia da fala" de ópera tcheca desafia a barreira linguística
IRINEU FRANCO PERPETUO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Nesta semana, a ópera vai falar
tcheco em São Paulo. Pela primeira vez o compositor Leos Janácek
(1854-1928) terá uma ópera sua
encenada no Brasil, e a escolha recaiu sobre "Jenufa" (pronuncia-se "ienúfa").
"Quando fui convidado, morri
de medo, porque não conhecia a
"Jenufa" nem de nome", explica
Naum Alves de Souza, responsável pela direção cênica, figurinos e
cenários do espetáculo. Sua última experiência com ópera havia
sido "Os Pescadores de Pérolas",
de Bizet, no Municipal, em 95.
"A gente ficava louco durante os
ensaios, porque a língua é muito
difícil. Foi fundamental, para
mim, ter contado com a ajuda de
João Malatian, porque, sem a ajuda de alguém que lesse partitura,
não ia dar", afirma Naum. "No
fim, o milagre da música acabou
conquistando a todos."
"Jenufa" foi um parto de nove
anos e o primeiro sucesso operístico de Janácek, que já tinha 50
anos de idade à época de sua estréia, em 1904. Com libreto do
compositor, baseado em peça
realista de Gabriela Preissová
(1862-1946), a ópera lembra o verismo italiano ao contar com vigor os desencontros amorosos
em uma aldeia morávia.
Musicalmente, para além dos
elementos folclóricos, o que mais
chama a atenção é o peculiar melodismo do compositor, que emprega métrica e acentuação muito
próximos da oralidade da língua
tcheca, num recurso que ficou conhecido como "melodia da fala".
O Municipal recorreu a uma especialista para adestrar todos os
cantores em tcheco.
A criação de Janácek foi a escolha do maestro Ira Levin para
substituir "Lohengrin", ópera que
o Municipal originalmente havia
programado para agosto e acabou
sendo adiada para 2004.
No elenco, Levin privilegiou
cantores que fizeram carreira na
Alemanha, como a soprano polonesa Therese Waldner (Jenufa), o
tenor norte-americano Jeffrey
Dowd (Laca) e a soprano Nina
Warren (Kostelnickca), também
dos EUA. Entre os intérpretes nacionais, os papéis de maior destaque vão para o tenor Sérgio Weintraub (Steva) e para a mezzo-soprano Regina Elena Mesquita
(Avó).
"O espetáculo tem cara de ópera
romântica com toque realista",
diz Souza. "A cenografia e os figurinos têm origem étnica, sim, mas
possuem mais intenção de palco
do que preocupação com autenticidade", afirma.
JENUFA. Ópera de Leos Janácek. Direção
musical e regência: Ira Levin. Direção
cênica, figurinos e cenários: Naum Alves
de Souza. Quando: hoje, dias 19, 21 e 23,
às 20h30; domingo, às 17h. Onde: Teatro
Municipal (pça. Ramos de Azevedo, s/nš,
tel. 222-8698). Quanto: de R$ 15 a R$
100.
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