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São Paulo, quinta-feira, 14 de agosto de 2003

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ERUDITO

Peça tem direção cênica de Naum Alves de Souza

"Melodia da fala" de ópera tcheca desafia a barreira linguística

IRINEU FRANCO PERPETUO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Nesta semana, a ópera vai falar tcheco em São Paulo. Pela primeira vez o compositor Leos Janácek (1854-1928) terá uma ópera sua encenada no Brasil, e a escolha recaiu sobre "Jenufa" (pronuncia-se "ienúfa").
"Quando fui convidado, morri de medo, porque não conhecia a "Jenufa" nem de nome", explica Naum Alves de Souza, responsável pela direção cênica, figurinos e cenários do espetáculo. Sua última experiência com ópera havia sido "Os Pescadores de Pérolas", de Bizet, no Municipal, em 95.
"A gente ficava louco durante os ensaios, porque a língua é muito difícil. Foi fundamental, para mim, ter contado com a ajuda de João Malatian, porque, sem a ajuda de alguém que lesse partitura, não ia dar", afirma Naum. "No fim, o milagre da música acabou conquistando a todos."
"Jenufa" foi um parto de nove anos e o primeiro sucesso operístico de Janácek, que já tinha 50 anos de idade à época de sua estréia, em 1904. Com libreto do compositor, baseado em peça realista de Gabriela Preissová (1862-1946), a ópera lembra o verismo italiano ao contar com vigor os desencontros amorosos em uma aldeia morávia.
Musicalmente, para além dos elementos folclóricos, o que mais chama a atenção é o peculiar melodismo do compositor, que emprega métrica e acentuação muito próximos da oralidade da língua tcheca, num recurso que ficou conhecido como "melodia da fala". O Municipal recorreu a uma especialista para adestrar todos os cantores em tcheco.
A criação de Janácek foi a escolha do maestro Ira Levin para substituir "Lohengrin", ópera que o Municipal originalmente havia programado para agosto e acabou sendo adiada para 2004.
No elenco, Levin privilegiou cantores que fizeram carreira na Alemanha, como a soprano polonesa Therese Waldner (Jenufa), o tenor norte-americano Jeffrey Dowd (Laca) e a soprano Nina Warren (Kostelnickca), também dos EUA. Entre os intérpretes nacionais, os papéis de maior destaque vão para o tenor Sérgio Weintraub (Steva) e para a mezzo-soprano Regina Elena Mesquita (Avó).
"O espetáculo tem cara de ópera romântica com toque realista", diz Souza. "A cenografia e os figurinos têm origem étnica, sim, mas possuem mais intenção de palco do que preocupação com autenticidade", afirma.


JENUFA. Ópera de Leos Janácek. Direção musical e regência: Ira Levin. Direção cênica, figurinos e cenários: Naum Alves de Souza. Quando: hoje, dias 19, 21 e 23, às 20h30; domingo, às 17h. Onde: Teatro Municipal (pça. Ramos de Azevedo, s/nš, tel. 222-8698). Quanto: de R$ 15 a R$ 100.


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