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ANIVERSÁRIO
Grandes nomes da música e da dança dividiram o espaço do teatro com gatos abandonados da praça Ramos
Aos 92, Municipal resgata suas histórias
ALEXANDRA MORAES
DA REDAÇÃO
Ao completar 92 anos nesta semana, o Teatro Municipal pode
reafirmar sua intimidade com São
Paulo e seus moradores. Não deixa, no entanto, de ainda guardar
muitas de suas histórias, que podem ser reveladas pouco a pouco
em olhares cuidadosos.
Projetado em 1903 pelo arquiteto Ramos de Azevedo e inaugurado em 12 de setembro de 1911, o
teatro foi aberto com uma apresentação da ópera "Hamlet", de
Ambroise Thomas, após oito
anos de construção, e desde então
abrigou temporariamente a arte
de Maria Callas, Enrico Caruso,
Guiomar Novaes, Isadora Duncan, Vaslav Nijinski, Bidu Sayão,
Arthur Rubisntein, além das
grandes orquestras, da agitação
da Semana de Arte Moderna e
ainda as idas e vindas de muitos
gatos.
Parte integrante da praça Ramos nos anos 70 e 80, os gatos
também se integraram à história
do Municipal e protagonizaram
uma coleção de histórias/lendas a
seu respeito: gatos presos na tubulação de ar-condicionado cujos
miados atrapalhavam orquestras,
gatos que deram crias no órgão,
gatos que passeavam tranquilamente pelos corredores, um gato
que teria tido seus minutos de fama durante uma entrada numa
apresentação de "Madama Butterfly", nos anos 80, como relata a
arquiteta da prefeitura Denise de
Alcântara, que trabalha há oito
anos no teatro.
Antes dos gatos, porém, escultores e artistas deram vida e cor às
dependências do Municipal. É
impossível deixar de notar as pinturas de Oscar Pereira da Silva em
tela recortada, na cúpula da sala
de espetáculos, com representações das fases da vida humana e
suas legendas escritas em grego.
Foi também o artista quem realizou os afrescos do Salão Nobre,
onde há uma profusão de esculturas e detalhes em bronze.
Os vitrais, feitos pela companhia alemã V. Saile (que ainda está ativa) e por Conrado Sorgelicht,
um dos grandes vitralistas brasileiros, sofreram algumas alterações e foram restaurados em 1983,
por Conrado Sorgelicht Filho, de
acordo com a inscrição em uma
das peças.
"Com a explosão de uma bomba nos anos 60, no antigo prédio
da Light [também na praça Ramos], os vitrais daqui sofreram
abalos, não puderam se manter
integralmente originais", explica
Alcântara.
Visto de cima, o saguão principal revela dois imensos mosaicos,
executados por D'Agnesi Cav.
D'Angelo & Cia. de Veneza, segundo informa a "Monographia
do Theatro Mvnicipal de S.Paulo", publicada no dia do espetáculo inaugural. Um dos mosaicos
representa a ópera "As Valquírias", e o outro, "O Ouro do Reno", partes da tetralogia "O Anel
dos Nibelungos", de Richard
Wagner.
Acima do palco, está uma cena
alegórica do nascimento de Vênus, feita em gesso pelo importante escultor milanês Alfredo
Sassi. Nas escadas que levam aos
camarotes, erguem-se esculturas
em mármore do florentino Lorenzo Massa e "As Imaginárias",
dois bronzes dos irmãos Thiébaut. Tudo "marcando uma época de notável brilho que será a do
renascimento de nossa formosa
capital", como queria a "Monographia".
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