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São Paulo, domingo, 14 de setembro de 2003

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ANIVERSÁRIO

Grandes nomes da música e da dança dividiram o espaço do teatro com gatos abandonados da praça Ramos

Aos 92, Municipal resgata suas histórias

ALEXANDRA MORAES
DA REDAÇÃO

Ao completar 92 anos nesta semana, o Teatro Municipal pode reafirmar sua intimidade com São Paulo e seus moradores. Não deixa, no entanto, de ainda guardar muitas de suas histórias, que podem ser reveladas pouco a pouco em olhares cuidadosos.
Projetado em 1903 pelo arquiteto Ramos de Azevedo e inaugurado em 12 de setembro de 1911, o teatro foi aberto com uma apresentação da ópera "Hamlet", de Ambroise Thomas, após oito anos de construção, e desde então abrigou temporariamente a arte de Maria Callas, Enrico Caruso, Guiomar Novaes, Isadora Duncan, Vaslav Nijinski, Bidu Sayão, Arthur Rubisntein, além das grandes orquestras, da agitação da Semana de Arte Moderna e ainda as idas e vindas de muitos gatos.
Parte integrante da praça Ramos nos anos 70 e 80, os gatos também se integraram à história do Municipal e protagonizaram uma coleção de histórias/lendas a seu respeito: gatos presos na tubulação de ar-condicionado cujos miados atrapalhavam orquestras, gatos que deram crias no órgão, gatos que passeavam tranquilamente pelos corredores, um gato que teria tido seus minutos de fama durante uma entrada numa apresentação de "Madama Butterfly", nos anos 80, como relata a arquiteta da prefeitura Denise de Alcântara, que trabalha há oito anos no teatro.
Antes dos gatos, porém, escultores e artistas deram vida e cor às dependências do Municipal. É impossível deixar de notar as pinturas de Oscar Pereira da Silva em tela recortada, na cúpula da sala de espetáculos, com representações das fases da vida humana e suas legendas escritas em grego. Foi também o artista quem realizou os afrescos do Salão Nobre, onde há uma profusão de esculturas e detalhes em bronze.
Os vitrais, feitos pela companhia alemã V. Saile (que ainda está ativa) e por Conrado Sorgelicht, um dos grandes vitralistas brasileiros, sofreram algumas alterações e foram restaurados em 1983, por Conrado Sorgelicht Filho, de acordo com a inscrição em uma das peças.
"Com a explosão de uma bomba nos anos 60, no antigo prédio da Light [também na praça Ramos], os vitrais daqui sofreram abalos, não puderam se manter integralmente originais", explica Alcântara.
Visto de cima, o saguão principal revela dois imensos mosaicos, executados por D'Agnesi Cav. D'Angelo & Cia. de Veneza, segundo informa a "Monographia do Theatro Mvnicipal de S.Paulo", publicada no dia do espetáculo inaugural. Um dos mosaicos representa a ópera "As Valquírias", e o outro, "O Ouro do Reno", partes da tetralogia "O Anel dos Nibelungos", de Richard Wagner.
Acima do palco, está uma cena alegórica do nascimento de Vênus, feita em gesso pelo importante escultor milanês Alfredo Sassi. Nas escadas que levam aos camarotes, erguem-se esculturas em mármore do florentino Lorenzo Massa e "As Imaginárias", dois bronzes dos irmãos Thiébaut. Tudo "marcando uma época de notável brilho que será a do renascimento de nossa formosa capital", como queria a "Monographia".



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