São Paulo, quinta-feira, 14 de novembro de 2002

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DANÇA

Coreógrafo estréia adaptação de Franz Kafka amanhã na Oficina Cultural Oswald de Andrade, com grupo FAR-15

Borelli amadurece com "A Metamorfose"

ANA FRANCISCA PONZIO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

A história de Gregor Samsa, o caixeiro-viajante que um dia acorda transformado em barata, está inspirando mais um espetáculo de dança. Eterna fonte de inspiração para artistas cênicos de todas as épocas, o livro "A Metamorfose", escrito por Franz Kafka em 1915, recebe agora uma interpretação corporal do bailarino e coreógrafo Sandro Borelli.
A partir de amanhã, na Oficina Cultural Oswald de Andrade, Borelli e seu grupo, o FAR-15, somam ao repertório o novo espetáculo, que conservou o título original da novela de Kafka (1883-1924). Com uma hora de duração, "A Metamorfose" de Borelli escapa da representação literal para construir o que ele chama de "movimentação dramatizada" sobre a obra do escritor tcheco.
"Embora meus espetáculos tenham afinidade com a obra de Kafka, eu tinha receio de abordá-la porque se trata de um ícone universal. Mas agora já me sinto mais maduro para interpretar uma peça como "A Metamorfose", que fala de sentimentos como o de isolamento no mundo, a falta de alternativas, a culpa e a opressão", diz Borelli.
Como todos os demais livros de Kafka, "A Metamorfose" só foi publicado após a morte do escritor. Entre as interpretações que recebeu ao longo do século 20, inclui-se a de Steven Berkoff, encenada em Nova York no final dos anos 80, com o bailarino Mikhail Baryshnikov no papel de Gregor Samsa. Apesar da repercussão, a peça foi um fracasso de crítica.
Borelli, que não viu a versão de Berkoff, se baseou unicamente na obra de Kafka para experimentar uma interpretação que exclui as simulações habituais, com bailarinos tentando se mover como insetos (como fez Baryshnikov).
"A obra é uma grande metáfora, e nós aproveitamos para levar essa qualidade à beira do realismo fantástico." Na versão, é uma peça de vestuário, um sobretudo negro, que simboliza Gregor Samsa, o qual não é interpretado por um integrante específico do elenco. "Esse casaco passa por todas as cenas e também simboliza a anulação do ego do intérprete. Em nosso espetáculo, Gregor continua sendo o personagem eternamente atual, que encarna a condição existencial de todos nós."
Na carreira de Borelli, "A Metamorfose" marca mais uma criação associada à literatura. Ex-bailarino do Balé da Cidade de São Paulo, ele já concebeu espetáculos inspirados em textos de Augusto dos Anjos e Martin Sherman.


A METAMORFOSE - de Sandro Borelli, com o grupo FAR-15. De amanhã a 8/12 (sextas e sábados, às 21h, e domingos, às 20h), na Oficina Cultural Oswald de Andrade (r. Três Rios, 363, Bom Retiro, tel. 221-4704). Entrada franca.


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