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São Paulo, sábado, 15 de março de 2003

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Contos de fada despido



Peça polêmica "Miranda", de Vladimir Capella, chega ao Sesc Belenzinho, enquanto o XPTO estréia no teatro do colégio Santa Cruz


João Caldas/Divulgação
O ator Caio Blat, em cena do espetáculo "Miranda", com texto e direção de Vladimir Capella


PEDRO IVO DUBRA
DA REDAÇÃO

"Miranda", texto e direção de Vladimir Capella, 51, chega amanhã ao Sesc Belenzinho. O espaço dá guarida à peça infanto-juvenil que foi recusada em outubro de 2002 pelo teatro do colégio Santa Cruz, aberto hoje ao público com "Utopia - Terra de Dragões".
Convidada para compor as comemorações internas dos 50 anos da escola, "Miranda" não foi exibida. Noticiou-se, três dias antes da apresentação prevista, que uma cena final de nudez criara um impasse entre os educadores, pela suposta inadequação da proposta aos alunos de cinco a dez anos de idade, público que se pretendia contemplar.
O cancelamento, segundo Capella, ocasionou reformulações na equipe. Atores tiveram de abandoná-la e foram convidados Caio Blat e Caco Ciocler. A peça traz 20 atores e três músicos.
"O nu permanece na obra por ser absolutamente necessário", diz o encenador. Na história, a menina Miranda é abandonada pela família. Adolescente, finge-se de homem, decide curar o rei, doente por infelicidade, e se descobre sua filha. Na última cena, despe-se e se revela ao pai.
Sobre a recusa da peça pelo teatro do Santa Cruz, afirma Vladimir Capella: "Achei uma atitude inconsequente. Fomos postos no olho da rua sem se medirem as consequências do gesto".
Ele opina que a nudez não é um motivo em si para que o colégio declinasse. "Não foi maldade. Eles são donos do teatro, estão no seu direito. Mas acho que o nu foi mais um álibi, não se queria a peça porque não servia aos interesses da instituição."

Santa Cruz
"Precisava de uma peça para as crianças de cinco a nove anos. "Miranda" fez ensaios, fazia-se o que queria. Aí as pessoas foram se aproximando, os professores assistiram. Havia o nu frontal e não o acharam adequado. A proposta do Capella foi tirar o nu para a escola e manter aos outros. Não se aceitou, então só não fechei o contrato. Não censurei nada, não é do meu estilo, não é do padrão da escola", declara o diretor-geral do colégio Santa Cruz, Luiz Eduardo Cerqueira Magalhães, 57.
"O Capella é ótimo, já mandei os alunos para peças dele, só não quero ficar com a pecha de censor, não foi isso o que aconteceu."
O teatro, projeto de J. C. Serroni (que também fez o cenário e os figurinos de "Miranda"), teve um investimento de cerca de US$ 1,5 milhão. Dispõe de parte frontal e laterais móveis, comporta diferentes desenhos cênicos, variando de 450 a 900 lugares e se transformando em arena, semi-arena, palco italiano ou elisabetano.
A apresentação da Orquestra de Câmara da USP, o lançamento do CD de Marcelo Quintanilha, uma mostra circense, a gravação do programa "Estúdio Brasil" e a peça "Mano" são as próximas atrações, depois de "Utopia - Terra de Dragões". No espetáculo do grupo XPTO, três clowns buscam Utopia, um mundo esquecido habitado por cinco dragões.
O diretor da companhia, Osvaldo Gabrielli, 44, diz conhecer por alto a polêmica sobre "Miranda" e não enxerga relação entre sua estréia e ela. "Não tenho nada a ver com isso. Não há polêmica. Não se trata de um teatro público, quando se traz um projeto para o Sesi ou para o Sesc, eles falam: isso me interessa, isso não me interessa. A coisa tem ou não o perfil. Cada espaço tem o seu perfil."
O XPTO deve estrear um espetáculo de rua de grande porte, "O Sonho de Voar", em agosto.

MIRANDA. Texto e direção: Vladimir Capella. Com: Caio Blat, Caco Ciocler e outros. Onde: Sesc Belenzinho - teatro (av. Álvaro Ramos, 915, tel. 6602-3700). Quando: estréia amanhã, às 16h; sáb. e dom., às 16h; até 11/5. Sete anos. 60 min. Quanto: de R$ 5 a R$ 10.


UTOPIA - TERRA DE DRAGÕES. Texto e direção: Osvaldo Gabrieli. Com: XPTO. Onde: teatro do colégio Santa Cruz (r. Orobó, 277, tel. 3024-5191). Quando: sáb. e dom., às 16h; até 27/4. Quatro anos. 50 min. Quanto: R$ 15.


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