São Paulo, sábado, 15 de maio de 2004 |
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ERUDITO Pianista brasileiro, agora uma "celebridade", faz duas apresentações com ingressos esgotados como solista da OSM Municipal vê Schumann de Nelson Freire
JOÃO BATISTA NATALI DA REPORTAGEM LOCAL O pianista brasileiro Nelson Freire, 59, estará amanhã e segunda-feira no Teatro Municipal. Será o solista do "Concerto para Piano e Orquestra", em lá menor, de Robert Schumann (1810-1856). A Orquestra Sinfônica Municipal será regida por Ira Levin, que também interpreta de Paul Dukas (1865-1935) "O Aprendiz de Feiticeiro" e, de Sergei Prokofiev (1891-1953), a "Sinfonia nš 5", a "Clássica", a mais conhecida das sete do compositor russo. Mineiro radicado em Paris, Nelson Freire em São Paulo já é um acontecimento singular. Ele deveria primeiramente interpretar o "Concerto nš 2" de Sergei Rachmaninov. Trocou-o pelo de Schumann, que interpretou no ano passado com a OSB (Orquestra Sinfônica Brasileira), regida por Yeruham Scharovsky. Freire e Schumann são objeto de um recente reencontro. O pianista gravou três ciclos de peças para piano do compositor romântico alemão que tendem a se tornar a interpretação de referência. São eles "Carnaval", "Pappillons" e "Kinderszenen". Foi aliás o mesmo programa de um recital que ele deu em Bordeaux, na França, em dezembro de 2002. E que repercutiu na crítica de modo estrondoso. A gravação está recolocando Nelson Freire numa trilha -o de sua própria discografia- que ele de certo modo havia descuidado. Privilegiava apresentações ao vivo e deixava os discos para solistas talentosos, mas nem sempre com sua capacidade de introspecção, sem a precisão técnica ou a sutileza de seus fraseados. O documentário que lhe dedicou João Moreira Salles ampliou seu público, transformou-o numa celebridade entre os artistas eruditos brasileiros. Como uma das conseqüências, o Municipal se apresenta com bilheteria fechada. Os ingressos dessa vez foram todos antecipadamente vendidos. Há em Freire, com a maturidade, a gradativa aproximação de um perfil de interpretação que lembra sua mestra de linguagem, Guiomar Novaes. No ano passado o ouvimos em São Paulo com acompanhamentos díspares. Com a excelente Osesp, ele foi o solista do "Concerto nš 1", de Dmitri Chostakovich, e com a menos brilhante Sinfônica de Milão, no "Concerto nš 4", de Beethoven, e "Concerto nš 2", de Fréderic Chopin, mesma peça que fez em março no Municipal de São Paulo. A OSM não é, porém, exatamente a mesma. Ira Levin fez dezenas de substituições e deu aos músicos um padrão sinfônico e uma auto-estima que eles provavelmente desconheciam. O ciclo integral de concertos e obras sinfônicas de Brahms, iniciado há duas semanas, foi ao mesmo tempo uma demonstração disso. Para os que não ouviam a orquestra há algum tempo, foi também uma boa surpresa. NELSON FREIRE E A ORQUESTRA SINFÔNICA MUNICIPAL. Com regência de Ira Levin. Quando: amanhã, às 17h, e segunda-feira, às 21h. Onde: Teatro Municipal (pça. Ramos de Azevedo, s/nš, região central, tel. 222-8698). Quanto: de R$ 20 a R$ 50 (ingressos já esgotados). Próximo Texto: Música: Careqa se diz "filho de ninguém" na MPB Índice |
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