São Paulo, Sábado, 15 de Maio de 1999
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EXPOSIÇÃO
Penna Prearo abre mostra em que cria personagens inusitados com imagens ampliadas em grande formato
Fotógrafo ilumina alma e carne de SP

EDER CHIODETTO
Editor-adjunto de Fotografia

"Tudo quanto vemos esconde outra coisa; adoraríamos ver o que aquilo que vemos esconde de nós..."
René Magritte

São Paulo, a cidade-cenário, e seus personagens oníricos serão evocados a partir de hoje na exposição "Alma de Borracha", do fotógrafo Penna Prearo, que inaugura o simpático Espaço Ophicina, na Vila Madalena, dentro do 4º Mês Internacional da Fotografia, realizado pelo Nafoto.
Prearo é um fotógrafo que faz do erro e do desaconselhável a sua munição. Depois de dominar a técnica, zomba dela e contraria as leis básicas da fotografia. Revela negativo como se fosse cromo, abusa de flashes e velocidades baixas. Treme tudo. Se o objeto está imóvel, é ele quem se movimenta. Se o objeto ganha velocidade, ele estanca.
Mas esse drible na técnica é pouco para sintetizar essa "Alma de Borracha" (título emprestado de um disco dos Beatles). Amante da literatura e da música, essas imagens são exercícios ficcionais e podem remeter ao realismo fantástico. Inflamam se vistas com fundo musical de Hermeto Paschoal.
As sete imagens, ampliadas em 1,5 m por 1 m, narram a trajetória de Prearo por São Paulo. Mas que cidade é essa que só é possível ser vista pelo filtro das suas lentes? Que personagens são esses, sempre tão aflitos e acelerados, num frenesi incontido em busca do gozo supremo ou de algo que preencha o vácuo existente entre o mal-estar físico e suas almas espectrais?
Esses seres captados por Prearo parecem estar em fuga constante. Fuga do corpo que os contêm, do espaço urbano que os esquadrinha e sufoca. Fuga da irreversível banalização e perda da individualidade que a metrópole opera.
No rastro dessa fuga ficam pelo caminho fragmentos de cores saturadas, luzes tensas e ruínas de cidades que Prearo recolhe e recicla na sua usina lúdica para transformar em imagens que equivalem a um poema belo e complexo.
Prearo revela sua mordacidade ao fundir um mundo onírico e construído com a imagem de pessoas no metrô, presente na mostra. É o elo entre a carne trêmula e a "Alma de Borracha".

Exposição: Alma de Borracha, de Penna Prearo Quando: abertura hoje, às 11h; seg. a sex., das 9h às 18h, sáb., das 11h às 15h; até 30/6
Onde: Espaço Ophicina (r. Harmonia, 303, Vila Madalena, tel. 814-0094)
Preço das obras: R$ 1.200 cada


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