São Paulo, sábado, 15 de junho de 2002

Texto Anterior | Índice

"KATE E LEOPOLD"

Comédia com Ryan dirige-se a público americano pós-atentado

CRÍTICO DA FOLHA

Meg Ryan está de volta à comédia romântica, mais antiquada que nunca. Ela, que após completar 40 anos parecia decidida a fazer papéis mais sérios, volta ao gênero, com uma pitada de fantasia. O destino da atriz começa a lembrar o de Mary Pickford, a eterna namoradinha inocente da América vitoriana. Em "Kate e Leopold", Ryan encontra seu "amor perfeito" na figura de um aristocrata oitocentista.
Terceiro duque de Albany, Leopold (Hugh Jackman), exegeta típico dos ideais progressistas de seu século e aristocrata ciente da decadência de sua classe, nos é apresentado pelo diretor James Mangold ("Garota Interrompida") durante a inauguração da ponte do Brooklyn, em 1876.
Em seu discurso de inauguração, o prefeito de Nova York fala, referindo-se ao soerguimento da ponte, de uma "ereção" duradoura, primeira e sintomática piadinha de um filme nostálgico claramente dirigido ao público americano pós-atentado, traumatizado pela castração do WTC.
Leopold vai parar, por um portal do tempo, na Nova York contemporânea, onde vive aventuras ao estilo "Crocodillo Dundee" e se envolve com a personagem de Ryan, uma típica mulher moderna que trocou o amor pela carreira. O duque terá pouco a aprender e muito a ensinar aos filhos do novo século. Galanteio, integridade, galhardia, inventividade e reflexão, eis o que os americanos de hoje poderiam aprender com o espírito oitocentista, sugere o filme de Mangold, evidência de uma América em busca dos antigos valores.
Ao saudosismo ideológico americano, Mangold sobrepõe a nostalgia própria de Hollywood: "Kate e Leopold" é uma espécie de comédia(-fantasia) romântica retrô que idealiza a doce alienação do antigo cinema-ópio hollywoodiano. "Não se pode viver num conto de fadas", nos diz, contrariada, Ryan, logo revelando sua verdadeira índole ao confessar identificar-se com o vizinho, um tipo que, todos os domingos, antes de cair no sono, escuta a trilha sonora de "Bonequinha de Luxo".
(TIAGO MATA MACHADO)


Kate e Leopold
Kate & Leopold
 
Direção: James Mangold
Produção: EUA, 2002
Com: Meg Ryan e Hugh Jackman
Onde: nos cines Eldorado, Morumbi e circuito



Texto Anterior: Cinema: Saga de "Os Sertões" se prolonga em ciclo
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.