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EXPOSIÇÃO
O fotógrafo, pintor e escritor francês abre hoje, às 19h30, para convidados, a mostra "Viver", na Pinacoteca
Banier flagra ternura e dribla a morte
EDER CHIODETTO
Editor-adjunto de Fotografia
"Viver", com a intensidade de
quem salta do táxi para ver uma
desconhecida provando um vestido de noiva, é o nome-tema da exposição do fotógrafo, pintor e escritor francês François-Marie Banier que será inaugurada hoje, às
19h30, na Pinacoteca do Estado.
Os 148 quadros, dispostos em sete salas, mostram fotografias, pinturas e fotopinturas que encerram
conceitos propagados pelo artista
com a mesma compulsão com que
cria imagens e persegue histórias.
A captura de repentes de ternura
e o universo simbólico do embate
entre a fixação e a passagem do
tempo sobre o mundo e as coisas
do mundo são alguns dos motes do
seu trabalho. "Se a palavra conduz
à morte, dela participa, a fotografia
dela se afasta. Se a escrita joga com
o tempo, a fotografia o estanca. Foto, não há nada a redizer", escreve
Banier no catálogo da mostra.
Mas como pode a fotografia se
afastar da morte, se a câmera sempre fixa o momento que acabamos
de perder, o irrecuperável? Não seria a fotografia uma alegoria do
tempo que passa e morre? "Acredito que não. O momento que passa
fica retido na memória. E se, ao fotografar, eu consigo extrair uma
emoção genuína, uma centelha de
ternura, então o potencial onírico
do tempo passado ganha amplidão. A fotografia pode, portanto,
ser um drible na morte."
Amigo de muitos artistas, Banier
mostra na Pinacoteca fotos em
preto-e-branco de famosos como
Isabelle Adjani, Marcello Mastroianni, Silvana Mangano, Bob
Wilson, Samuel Beckett, Cartier-Bresson e Godard.
Alguns possuem textos ou tinta
sobrepostos ao papel fotográfico e
outros, não. Por quê? "Algumas fotografias são como semáforos de
rua que me fazem parar ou passar
adiante. Se paro, preciso intervir
até dar certo." O que é dar certo? "É
quando você olha algo, um quadro
ou alguém que atravessa a rua, e
sente que a vida flui mais intensamente ali. São emoções que se expandem", diz, enquanto desenha
um coração no ar, como se segurasse um pincel.
Na semana passada, a caminho
da Pinacoteca, Banier passava de
táxi pela "rua das noivas". Ao ver
duas moças numa loja provando
seus vestidos, desceu do carro, sacou a câmera da bolsa e se pôs a fotografar a cena. "É preciso estar
atento, não deixar que o cotidiano
banalize nosso olhar. Escrevo, fotografo e pinto para salvar do esmaecer o pouco que se compreende do visível, mesmo que se ouça
por vezes: "Não era assim"."
Mostra: Viver, de François-Marie Banier
Onde: Pinacoteca do Estado (praça da Luz,
2, tel. 229-9844)
Quando: abertura para convidados hoje, às
19h30. De terça a domingo, das 10h às 18h
Quanto: R$ 5 e R$ 2 (meia), grátis às quintas
Patrocinador: L'oréal
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