São Paulo, Terça-feira, 15 de Junho de 1999
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EXPOSIÇÃO
O fotógrafo, pintor e escritor francês abre hoje, às 19h30, para convidados, a mostra "Viver", na Pinacoteca
Banier flagra ternura e dribla a morte

EDER CHIODETTO

Editor-adjunto de Fotografia


"Viver", com a intensidade de quem salta do táxi para ver uma desconhecida provando um vestido de noiva, é o nome-tema da exposição do fotógrafo, pintor e escritor francês François-Marie Banier que será inaugurada hoje, às 19h30, na Pinacoteca do Estado.
Os 148 quadros, dispostos em sete salas, mostram fotografias, pinturas e fotopinturas que encerram conceitos propagados pelo artista com a mesma compulsão com que cria imagens e persegue histórias.
A captura de repentes de ternura e o universo simbólico do embate entre a fixação e a passagem do tempo sobre o mundo e as coisas do mundo são alguns dos motes do seu trabalho. "Se a palavra conduz à morte, dela participa, a fotografia dela se afasta. Se a escrita joga com o tempo, a fotografia o estanca. Foto, não há nada a redizer", escreve Banier no catálogo da mostra.
Mas como pode a fotografia se afastar da morte, se a câmera sempre fixa o momento que acabamos de perder, o irrecuperável? Não seria a fotografia uma alegoria do tempo que passa e morre? "Acredito que não. O momento que passa fica retido na memória. E se, ao fotografar, eu consigo extrair uma emoção genuína, uma centelha de ternura, então o potencial onírico do tempo passado ganha amplidão. A fotografia pode, portanto, ser um drible na morte."
Amigo de muitos artistas, Banier mostra na Pinacoteca fotos em preto-e-branco de famosos como Isabelle Adjani, Marcello Mastroianni, Silvana Mangano, Bob Wilson, Samuel Beckett, Cartier-Bresson e Godard.
Alguns possuem textos ou tinta sobrepostos ao papel fotográfico e outros, não. Por quê? "Algumas fotografias são como semáforos de rua que me fazem parar ou passar adiante. Se paro, preciso intervir até dar certo." O que é dar certo? "É quando você olha algo, um quadro ou alguém que atravessa a rua, e sente que a vida flui mais intensamente ali. São emoções que se expandem", diz, enquanto desenha um coração no ar, como se segurasse um pincel.
Na semana passada, a caminho da Pinacoteca, Banier passava de táxi pela "rua das noivas". Ao ver duas moças numa loja provando seus vestidos, desceu do carro, sacou a câmera da bolsa e se pôs a fotografar a cena. "É preciso estar atento, não deixar que o cotidiano banalize nosso olhar. Escrevo, fotografo e pinto para salvar do esmaecer o pouco que se compreende do visível, mesmo que se ouça por vezes: "Não era assim"."


Mostra: Viver, de François-Marie Banier
Onde: Pinacoteca do Estado (praça da Luz, 2, tel. 229-9844)
Quando: abertura para convidados hoje, às 19h30. De terça a domingo, das 10h às 18h
Quanto: R$ 5 e R$ 2 (meia), grátis às quintas
Patrocinador: L'oréal


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