PEDRO IVO DUBRA
DA REDAÇÃO

Depois de assistir ao espetáculo "Ludwig e as Irmãs", em encenação de Maurício Paroni de Castro, São Paulo tem agora a chance de conhecer outra interpretação sobre o mesmo texto. Sob a visão de outro diretor, de outra praça, em outra chave estética. A tradução do título também é outra.
"Almoço na Casa do Sr. Ludwig", que estréia hoje para convidados no Espaço Promon, antiga Sala São Luiz, e amanhã para o público, é mais uma montagem sobre "Ritter, Dene, Voss" (84), do holandês Thomas Bernhard (1931-1989). Até o começo do ano, não havia notícia de encenação profissional do texto no Brasil.
A peça tem direção do gaúcho Luciano Alabarse e fez a primeira apresentação no último Festival de Teatro de Curitiba. Passou por Porto Alegre e Salvador.
No enredo, cru retrato da aristocracia alemã, em cuja língua Bernhard se firmou como um dos principais dramaturgos do século 20, narra-se o encontro conturbado entre Ludwig (Luiz Paulo Vasconcellos) e suas duas irmãs, Ritter (Sandra Dani) e Dene (Ida Celina). A personagem é inspirada no filósofo austríaco Ludwig Wittgenstein (1889-1951) e num sobrinho seu.
Ludwig acaba de retornar do hospício. Em três longas cenas, desenrola-se o acerto de contas entre os membros da família despedaçada, instituição consumida por irônicos e classudos diálogos.
"Bernhard é muito denso, muito prolixo, mas não acho que isso deponha contra ele. A questão é como lidar com tantas palavras, palavras, palavras. Isso ao mesmo tempo me apaixona, esse excesso de texto", afirma Alabarse, 49.
Para tanto, o diretor aposta numa chave realista para a encenação. "Na minha visão, neste texto ele [o realismo" é completamente necessário. Todas as situações ficam esclarecidas e ficam lógicas, dependem do realismo. Coisa que não vejo tanto ultimamente. Nosso teatro está muito voltado a experiências estéticas, de linguagem. Queria fazer um mergulho no realismo, no hiper-realismo."
Pondera também que se trata de sondagem difícil. Há sempre o perigo de a concepção descambar para um tipo de realismo execrado por muitos, o da telenovela, ou de resvalar em noções anacrônicas de teatro como imitação pura e simples da realidade.
Sobre o convite para a apresentação na cidade, Alabarse relata que a indicação da peça à administração do Espaço Promon veio do diretor Eduardo Tolentino.
"Ele soube que a gente estava em cartaz em Porto Alegre, viu e indicou", afirma. Está programado para outubro no espaço, aliás, um espetáculo assinado pelo carioca, "Executivos", do francês Daniel Besse, com o grupo Tapa.