São Paulo, quinta-feira, 15 de agosto de 2002

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ARTES

Exposição lembra a renovação concretista através de cartazes de revista e gravações com poesias de Décio Pignatari

Mostra transforma literatura em visuais

FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA

"Noigandres" traz à Vila Buarque os ecos do passado universitário. Extraindo poesia da arquitetura da linguagem, retoma o projeto intelectual estruturalista que consolidou a pesquisa na Faculdade de Filosofia da rua Maria Antônia durante o período de expansão modernizadora de São Paulo.
"Noigandres" foi a revista que aglutinou os poetas concretos na década de 50. Teve cinco números editados por Décio Pignatari, Augusto e Haroldo de Campos, entre 1952 e 1962. Apesar da modesta quantidade, despertou interesse de escritores então consagrados, como Manuel Bandeira, devido à aliança entre criação poética e inventividade gráfica.
Como transformar literatura em artes visuais? A curadoria enfrenta esse desafio de dois modos: revendo a produção ligada a experimentos tipológicos e apresentando material impresso sob forma de mostra retrospectiva.
A exposição propriamente dita divide-se em três segmentos. Abre-se com fotocópias de artigos afixados em mural cinza e impressos isolados numa vitrine. Vários escritores atestam o engajamento na pesquisa desenvolvida pelo grupo: desde Antônio Houaiss até Pedro Xisto. A proximidade à abstração construtiva é sugerida pela reprodução da capa do catálogo da primeira Bienal e do manifesto do grupo Ruptura.
Na parede oposta, encontramos páginas de poesia concreta, que podem ser acompanhadas por declamações gravadas à disposição dos visitantes em monitoria, em "discman".
No fundo, estão cinco pilhas de cartazes oferecidos ao público como lembrança. Tratam-se de obras expostas originalmente da mesma forma, tal como "OesteLeste" (1957), de Ronaldo Azeredo.
O interesse da visita limita-se à contemplação distanciada e leitura de documentos. O livro-poema de Décio Pignatari, por exemplo, perde a função própria devido à impossibilidade de o folhearmos. Nesse sentido, o catálogo editado para esta ocasião ou outros livros quaisquer seriam suficientes para oferecer o mesmo material.
Entretanto, o projeto "Noigandres" se insere no ciclo comemorativo da arte concreta paulistana promovido pelo Centro Universitário Maria Antônia. Aproveita, assim, um diálogo ampliado por salas com eventos paralelos.


Arte Concreta Paulista   
Onde: Centro Universitário Maria Antonia (r. Maria Antônia, 294, 2º andar, Vila Buarque, tel. 3255-5538)
Quando: de segunda a sexta-feira: das 12h às 21h; sábado e domingo: das 9h às 21h. Até 8/9
Quanto: entrada franca
Patrocinador: Petrobras




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