|
Texto Anterior | Índice
ARTES
Exposição lembra a renovação concretista através de cartazes de revista e gravações com poesias de Décio Pignatari
Mostra transforma literatura em visuais
FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA
"Noigandres" traz à Vila
Buarque os ecos do passado universitário. Extraindo poesia da arquitetura da linguagem,
retoma o projeto intelectual estruturalista que consolidou a pesquisa na Faculdade de Filosofia da
rua Maria Antônia durante o período de expansão modernizadora de São Paulo.
"Noigandres" foi a revista que
aglutinou os poetas concretos na
década de 50. Teve cinco números
editados por Décio Pignatari, Augusto e Haroldo de Campos, entre
1952 e 1962. Apesar da modesta
quantidade, despertou interesse
de escritores então consagrados,
como Manuel Bandeira, devido à
aliança entre criação poética e inventividade gráfica.
Como transformar literatura
em artes visuais? A curadoria enfrenta esse desafio de dois modos:
revendo a produção ligada a experimentos tipológicos e apresentando material impresso sob forma de mostra retrospectiva.
A exposição propriamente dita
divide-se em três segmentos.
Abre-se com fotocópias de artigos
afixados em mural cinza e impressos isolados numa vitrine.
Vários escritores atestam o engajamento na pesquisa desenvolvida pelo grupo: desde Antônio
Houaiss até Pedro Xisto. A proximidade à abstração construtiva é
sugerida pela reprodução da capa
do catálogo da primeira Bienal e
do manifesto do grupo Ruptura.
Na parede oposta, encontramos
páginas de poesia concreta, que
podem ser acompanhadas por
declamações gravadas à disposição dos visitantes em monitoria,
em "discman".
No fundo, estão cinco pilhas de
cartazes oferecidos ao público como lembrança. Tratam-se de
obras expostas originalmente da
mesma forma, tal como "OesteLeste" (1957), de Ronaldo Azeredo.
O interesse da visita limita-se à
contemplação distanciada e leitura de documentos. O livro-poema
de Décio Pignatari, por exemplo,
perde a função própria devido à
impossibilidade de o folhearmos.
Nesse sentido, o catálogo editado
para esta ocasião ou outros livros
quaisquer seriam suficientes para
oferecer o mesmo material.
Entretanto, o projeto "Noigandres" se insere no ciclo comemorativo da arte concreta paulistana
promovido pelo Centro Universitário Maria Antônia.
Aproveita, assim, um diálogo ampliado por salas
com eventos paralelos.
Arte Concreta Paulista
Onde: Centro Universitário
Maria Antonia (r. Maria Antônia, 294, 2º
andar, Vila Buarque, tel. 3255-5538)
Quando: de segunda a sexta-feira: das
12h às 21h; sábado e domingo: das 9h às
21h. Até 8/9
Quanto: entrada franca
Patrocinador: Petrobras
Texto Anterior: Cinema/"O Príncipe": Arte da história e do invisível preenche o filme Índice
|