|
Texto Anterior | Índice
Tablado revira o centro da cidade
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma das caçulas da cena teatral
paulistana, a cia. Tablado de Arruar segue surpreendendo, inclusive aos próprios artistas. Leva
hoje, à praça da Sé, seu segundo
espetáculo, "Movimentos para
Atravessar a Rua". Resulta do
projeto Teatro de Rua e a Metrópole, selecionado este ano para o
Programa de Fomento ao Teatro.
Trata-se do primeiro grupo escolhido com opção estética, ideológica e exclusiva pelo teatro de
rua. A conquista de respeito vem
desde a estréia profissional do Tablado, em 2002, com "A Farsa do
Monumento".
Aquela peça retratava episódio
histórico de 1900, em que um homem comum quebrou protocolo
de cerimônia ao ajudar a descerrar o pano que cobria a estátua de
Pedro Álvares Cabral, no Rio, notícia que foi distorcida à época do
4º Centenário de Descobrimento.
Não se admitia que o gesto fora
praticado por um negro.
A cidadania violentada um século atrás hoje é ainda mais esmaecida em "Movimentos para
Atravessar a Rua". Durante três
meses, o grupo frequentou o centro da cidade, familiar por conta
da temporada da peça anterior.
Realizou cenas de improviso, ouviu, viu e assimilou o "pega-pra-capar" cotidiano que envolve a
sobrevivência de quem compartilha o miolo da metrópole.
A pesquisa deu em três núcleos
que compõem a dramaturgia de
"Movimentos...", de chave tragicômica. O primeiro episódio conta as peripécias de um sujeito que
é demitido e só encontra "bicos"
ou atalhos "mágicos" em sua jornada por um emprego. O segundo alude ao conflito entre camelôs
e fiscais da prefeitura. A última
parte trata de um acerto de contas
entre dois moradores de rua.
O texto, enfim, brotou das ruas.
Muitas vezes, fizeram parte das
rodas de improvisação justamente camelôs, fiscais, desempregados, moradores de rua etc. A dramaturgia ganhou tratamento final de Pedro Mantovani, que também divide a direção com Heitor
Goldflus (ligado à Cia. do Latão).
Segundo Goldflus, 40, a pesquisa de campo mostrou ao Tablado
algumas contradições nos discursos hegemônicos de revitalização
do centro velho de São Paulo.
"Axiomas como o de que "camelô
faz mal ao comércio formal" não
se aplicam bem à prática. Alguns
lojistas, por exemplo, chegam a
proteger ambulantes ou mesmo a
usá-los como revendedores."
"Movimentos..." quer trazer à
luz um tanto do que tem sido jogado para debaixo do tapete. Não
por acaso, um tapetão é valioso
recurso cenográfico na rua do espetáculo.
(VALMIR SANTOS)
MOVIMENTOS PARA ATRAVESSAR A
RUA. Texto: cia. Tablado de Arruar.
Direção: Heitor Goldflus e Pedro
Mantovani. Com: cia. Tablado de Arruar
(Clayton Mariano, Daniele Ricieri,
Demian Pinto, Lígia Oliveira, Martha Kiss,
Rodolfo Amorim e Vitor Vieira). Figurinos
e adereços: Daniela Cury. Quando: hoje,
às 12h30, na pça. da Sé; 18/10, na pça.
Ramos de Azevedo (12h30) e na r. Barão
de Itapetininga (16h); e outras 16
apresentações. Quanto: entrada franca.
Texto Anterior: "Na solidão dos campos de algodão": Montagem empresta maturidade a Koltès Índice
|