São Paulo, terça-feira, 16 de abril de 2002

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TEATRO

Espetáculos "Terça Insana", "Verdades, Canalhas" e "À la Carte" inserem dramaturgia nos dias úteis da cidade

Temporadas experimentais invadem semana

Divulgação
Cena do documentário "Samba Riachão", de Jorge Alfredo, que passa hoje e amanhã no festival


SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA

Durante os anos 50 e 60, a grande época do teatro paulista, havia apresentações de terça a domingo e as segundas eram para o teatro experimental. Assim, das segundas do Teatro Brasileiro de Comédia saiu o Teatro de Arena, das segundas do Arena, o teatro Oficina, e os porões do Oficina engendraram o teatro do Ornitorrinco. Com a crise econômica e política, esquerda e direita, comercial e experimental se separaram, e o mercado se retraiu.
Perdeu-se a terça e a quarta, e, nestes dias, a quinta vem desaparecendo também. Mas que não se aflijam em demasia os amantes de teatro: se as temporadas oficiais se limitam ao fim de semana, as experimentais aumentam e passam a ocupar a semana.
Não são só as leituras dramáticas que se multiplicam: no cabaré do N.Ex.T toda terça tem "Terça Insana", na qual Grace Gianoukas, primeira-dama do trash, faz a revista da semana com um humor absolutamente incorreto que vem atraindo cada vez mais iniciados.
Sempre aberta a convidados, conta com a fluência verbal de Marcelo Mansfield e com Sanderson de Marcelo Médici, já consagrado enquanto briguella da commedia dell'arte paulistana. Com piadas que nem sempre acertam, mas que são sempre renovadas, vale a pena ver grandes atores inventarem bons textos.
Na mão inversa, grandes textos formando bons atores, está "Verdades, Canalhas", compilação de contos desarmantes de García Marquez, João do Rio, Drummond e Murilo Rubião, costurados com agilidade por Mário Viana, como se fossem flagrantes de jornais sensacionalistas. A Cia. Provisório-Definitivo, recém-saída de uma premiada trajetória de festivais universitários, vem ocupar as quartas e quintas do teatro Cultura Inglesa com a garantia da direção ágil e precisa de Hugo Possolo e o carisma de Paula Arruda fazendo o coelho Teleco de Rubião, misto de Pixote e Pernalonga, com um humor agridoce.
A companhia tem tudo para repetir a bem-sucedida estratégia da La Mínima, companhia de Domingos Montagner e Fernando Sampaio, que com "À la Carte" estreou no ano passado na temporada alternativa, conquistou o APCA de melhor espetáculo de técnica circense e agora ocupa os fins de semana em Pinheiros.
Apoiada na direção de Leris Colombaioni, palhaço italiano de sexta geração, e em sete anos de experiência nas ruas, a montagem que tem o humor contestatório de Chaplin e o nonsense dos desenhos animados está pronta para a consagração: tendo concluído a trajetória alternativa, é um dos melhores espetáculos em cartaz.
Não, o teatro não está se retraindo, está se reciclando. E, para isso, todo dia é útil em São Paulo.


Terça Insana    
Concepção e direção: Grace Gianoukas
Onde: N.Ex.T - cabaré (r. Rego Freitas, 454, República, tel. 3106-9636)
Quando: ter., às 22h30; até 17/12
Quanto: R$ 5 (mais R$ 5 de consumação mínima)

Verdades, Canalhas    
Texto: Mário Vianna
Direção: Hugo Possolo
Onde: teatro Cultura Inglesa - Pinheiros (r. Dep. Lacerda Franco, 333, tel. 3191-0011)
Quando: qua. e qui., às 21h; até 2/5
Quanto: R$ 10

À la Carte     
Concepção: Cia. La Mínima
Direção: Leris Colombaioni
Onde: teatro Cultura Inglesa - Pinheiros
Quando: sex. e sáb., às 21h; dom., às 19h; até 5/5
Quanto: R$ 12




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