MARCELLA FRANCO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Vertigem. Esse é o cerne de "Ovelhas Negras", espetáculo que estréia hoje no Centro Cultural São Paulo e faz adaptação de dois livros do escritor gaúcho Caio Fernando Abreu, morto em decorrência da Aids em 96.
A sensação dá molde ao enredo a partir do momento em que, no palco, representa-se a descoberta da doença. "Saber que seus dias de vida estavam se esvaindo foi como um trampolim para Caio", diz o diretor Pedro Cardillo, que faz sua estréia na direção em teatro. "A Aids o fez refletir ainda mais profundamente sobre questões diversas, o que o enriqueceu sensivelmente."
O espetáculo é uma adaptação de dois livros do escritor, "Ovelhas Negras" e "Pequenas Epifanias". Misturando linguagens que vão da música à projeção de vídeos, a montagem se propõe a levar o público para o interior do universo de sua obra.
"São textos com observação irônica do cotidiano, que expõem praticamente tudo o que se passava em sua vida", conta Cardillo, que se dedica ao projeto desde o início do ano. "O que me encanta na obra de Caio é a maneira coloquial com que ele mostra toda a sua melancolia. Ele é muito próximo, fala de uma dor comum."
No elenco, os atores Cesar Guirao e Eduardo Estrela se revesam para apresentar fatos e sensações da vida do escritor. "O saldo desses textos mostra que vale a pena ir em busca de sonhos", diz Cardillo. "O espetáculo é uma oportunidade de aproximar as pessoas que ainda não o conhecem de uma poesia "não-hermética" e acessível a todos."