São Paulo, terça-feira, 17 de abril de 2001 |
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FOTOGRAFIA Tiago Santana lança livro com exposição de 70 imagens que ficará até dia 27 de maio no Sesc Pompéia "Benditos" exibe redenção de romeiros
EDER CHIODETTO EDITOR-ADJUNTO DE FOTOGRAFIA "Benditos" são os nomes das canções que os romeiros cantam rumo a Juazeiro do Norte, mais especificamente à estátua de Padre Cícero, no Ceará, nas datas religiosas. Esse também é o título do livro do fotógrafo Tiago Santana que será lançado hoje, com exposição de 70 imagens, no Sesc Pompéia. Nascido na cidade do Crato, vizinha a Juazeiro do Norte, onde viveu até a adolescência, Santana decidiu fotografar sua região natal e a religiosidade do seu povo tão logo iniciou sua carreira, no início dos anos 80. Para capturar as imagens de "Benditos", o fotógrafo realizou ao longo de sete anos diversas viagens a Juazeiro. Teve apoio da Bolsa Vitae de Artes, em 1994, e da Funarte (Prêmio Marc Ferrez de Fotografia), em 1995. Os peregrinos retratados por Tiago Santana não cultuam suas divindades de forma branda. Há uma tensão constante, uma agonia que transborda e se espalha pelas fotografias. A viagem de horas, às vezes dias, num pau-de-arara tem como meta a busca de soluções para suas vidas. As expressões crispadas, as mãos retorcidas e os olhares atônitos mostram pessoas indo ao encontro da redenção. E, acredita-se, só pode alcançar a graça divina quem possui fé. Muita fé. A demonstração pública dessa fé diante dos pés da estátua de padre Cícero faz Juazeiro do Norte se transformar num purgatório terrestre onde se reza por uma vaga no céu, pela saúde dos enfermos, por um emprego, um casamento e assim por diante. É esse território, do limite da crença, da sanidade, da explosão das emoções, que Santana interpreta em preto-e-branco (sem meios tons) em "Benditos". Dedicar-se por um longo tempo a um tema, conhecer bem a paisagem, as pessoas e os dogmas locais são ingredientes que auxiliam muito na realização de um bom ensaio fotográfico. No caso de "Benditos" e de seu criador, essa tese se confirma. Com sobressaltos. Santana tem um olhar bastante original e ousado. Suas composições são complexas, seus cortes, inusitados. As altas luzes e fortes sombras do sertão entram no seu quadro mais para desestruturar a cena que para buscar uma possível harmonia. O que, aliás, é bem-vindo. Diante de algumas de suas fotografias, um observador tende a se sentir mais desconfortável e intrigado que apaziguado. Os cortes abruptos e a aproximação quase cirúrgica do assunto fotografado fazem com que as fotografias de "Benditos" passem a sensação de terem sido amputadas de suas laterais. Parecem ser apenas detalhes de uma fotografia maior, de uma cena mais ampla. Esse recurso -ou linguagem- usado com maestria por Santana é responsável pelas melhores fotografias do livro. E pelas piores também. Em certas ocasiões a linguagem se transforma numa camisa-de-força e deixa o ensaio muito denso, claustrofóbico. Faltou um pouco de oxigênio, de expansão, que poderia estar presente em planos mais generosos. A falta total de legendas ou de algum tipo de texto que situe as imagens para o leitor é um problema que deve ser revisto nas próximas edições. Contudo o saldo é positivo, e a maturidade de Tiago Santana trará bons frutos para o mercado editorial brasileiro, carente de novos nomes, ensaios e enfoques. Benditos Autor: Tiago Santana Editora: Tempo d'Imagem Quanto: R$ 60 Exposição: vernissage hoje, às 20h, no Sesc Pompéia (r. Clélia, 93, tel. 3871-7700); de terça a domingo (até 27 de maio), das 10h às 21h; entrada franca Próximo Texto: Artes plásticas: Aos 50 anos, Snoopy recebe homenagem em duas exposições Índice |
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