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CINEMA
O filme mudo, de 1926, é exibido no Centro Cultural SP
"Fausto", de F.W. Murnau, reverencia o brilho de Goethe
PAULO SANTOS LIMA
free-lance para a Folha
O ciclo "Goethe - O Literato e o
Cinema", que acontece no Centro
Cultural São Paulo até amanhã,
não poderia fazer melhor referência ao escritor alemão: "Fausto
-Uma Lenda Popular Alemã"
(1926), de F.W. Murnau, é exibido
hoje às 20h.
"Fausto" é uma das obras mais
importantes de Goethe (1749-1832), romance que sofreu inúmeras transposições, de Haroldo
de Campos (com a peça "Graal
-Retrato de um Fausto Quando
Jovem") a Thomas Mann (o texto
"Doutor Fausto").
No cinema, a mais impactante
adaptação do livro é a de um cineasta não menos importante para a arte. Friedrich Wilhelm Murnau, assim como Goethe em seus
textos, impunha as percepções
sensoriais em cada fotograma,
atrelando-o à sensualidade, aos
desejos expostos e aos reprimidos. É assim em "Nosferatu"
(1921) -versão do "Drácula" de
Bram Stoker-, em que o vampiro tenta extravasar seus ímpetos
carnais, sexuais, mas sofre o vazio
de tal impossibilidade. Ou as tomadas de Emil Jannings (que
também está no longa de hoje),
desmoralizado, nos tempos da
República de Weimar, em "A Última Gargalhada" (1924), penúltima obra de Murnau antes de trocar a Alemanha pelos EUA.
No "Fausto" de Murnau, a história, em princípio, é a mesma do
original: Mefisto pede a alma de
Fausto e lhe oferece, em troca, a
juventude, os prazeres e o amor
de Margherite. Mas o diretor alemão parece fazer referências à vida de Goethe, "pai" do romantismo alemão do século 19.
Assim como Goethe está ligado
à escola romancista, Murnau ergueu um dos alicerces do expressionismo (movimento cinematográfico que surgiu na Alemanha
na passagem dos anos 10 aos 20).
E o jogo que faz entre luz e sombras (argumento primeiro da estética expressionista, que dá relevo às aparências, ao subconsciente e ao sensitivo-subjetivo) é executado primorosamente neste
"Fausto".
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