São Paulo, Sábado, 17 de Julho de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CINEMA
O filme mudo, de 1926, é exibido no Centro Cultural SP
"Fausto", de F.W. Murnau, reverencia o brilho de Goethe

PAULO SANTOS LIMA
free-lance para a Folha

O ciclo "Goethe - O Literato e o Cinema", que acontece no Centro Cultural São Paulo até amanhã, não poderia fazer melhor referência ao escritor alemão: "Fausto -Uma Lenda Popular Alemã" (1926), de F.W. Murnau, é exibido hoje às 20h.
"Fausto" é uma das obras mais importantes de Goethe (1749-1832), romance que sofreu inúmeras transposições, de Haroldo de Campos (com a peça "Graal -Retrato de um Fausto Quando Jovem") a Thomas Mann (o texto "Doutor Fausto").
No cinema, a mais impactante adaptação do livro é a de um cineasta não menos importante para a arte. Friedrich Wilhelm Murnau, assim como Goethe em seus textos, impunha as percepções sensoriais em cada fotograma, atrelando-o à sensualidade, aos desejos expostos e aos reprimidos. É assim em "Nosferatu" (1921) -versão do "Drácula" de Bram Stoker-, em que o vampiro tenta extravasar seus ímpetos carnais, sexuais, mas sofre o vazio de tal impossibilidade. Ou as tomadas de Emil Jannings (que também está no longa de hoje), desmoralizado, nos tempos da República de Weimar, em "A Última Gargalhada" (1924), penúltima obra de Murnau antes de trocar a Alemanha pelos EUA.
No "Fausto" de Murnau, a história, em princípio, é a mesma do original: Mefisto pede a alma de Fausto e lhe oferece, em troca, a juventude, os prazeres e o amor de Margherite. Mas o diretor alemão parece fazer referências à vida de Goethe, "pai" do romantismo alemão do século 19.
Assim como Goethe está ligado à escola romancista, Murnau ergueu um dos alicerces do expressionismo (movimento cinematográfico que surgiu na Alemanha na passagem dos anos 10 aos 20).
E o jogo que faz entre luz e sombras (argumento primeiro da estética expressionista, que dá relevo às aparências, ao subconsciente e ao sensitivo-subjetivo) é executado primorosamente neste "Fausto".


Texto Anterior: Fotografia: Metrô da Sé abriga mostra "Lomografia"
Próximo Texto: O bom do dia: Exposição aborda cotidiano na arte
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.