São Paulo, Quarta-feira, 17 de Novembro de 1999
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MIX BRASIL 99

Radical, Bruce LaBruce namora "skins-homo"

ALVARO MACHADO
especial para a Folha

O punk "Skin Flick" traz de volta hoje para a tela do Mix Brasil o "enfant terrible" canadense Bruce LaBruce, que visitou o festival com vários filmes em 97.
Em termos de intenções e de estilo, a produção atual, rodada em vídeo, revela amadurecimento. Porém "amadurecimento" é uma palavra no mínimo paradoxal para falar de um cineasta que traz à tona os desejos e ações saídos do mais profundo inconsciente e tipos que representam marginalidade dentro da própria canalha.
Se censura houvesse no país, LaBruce a ganharia inteira para si. Para começar, a homossexualidade que ele retrata em "Skin Flick" não é aquela já absorvida pelo sistema. Misturando atores e tipos colhidos nas ruas, seu filme aborda, em Londres, um grupo que existe também em outras capitais da Europa e que está no limite de todas as categorias: os skinheads homo, como os que "atuam" em alguns filmes pornô mais radicais.
Os "skin-homo" reúnem todas as qualidades da exceção. São politicamente errados em sua fascinação pelo totalitarismo (um deles se masturba lendo "Mein Kampf", de Hitler, e ejacula sobre o livro); sexualmente errados nas suas abordagens sexuais ("sujos", sem camisinha, atentando à moral pública, mais violentos nas carícias do que bestas selvagens); e são, ainda, escroques e ladrões.
Execrados pelos carecas nazi "tradicionais" por serem gays, chegam a admitir judeus em seu bando apátrida. Para surpresa geral, seus depoimentos dão conta de relacionamentos de longa duração, quando a tendência do "mainstream" é não guardar laços afetivos. Também, para horror dos gays ortodoxos, praticam sexo hetero, quando elas são destrambelhadas e quentes.
Assim, LaBruce deixa as curtições leves e vai de encontro ao que acredita ser ainda revolucionário sexualmente. Em sua história, uma "bicha fina" cede à animalidade de um "skin-homo" num parque e depois é roubado e barbarizado em seu apartamento, com seu companheiro negro.
Além de sabermos que a coisa não é tão fácil quando o tom de pele é mais escuro, aqui LaBruce expõe sua teoria: sexo é contaminação, não só de bactérias e vírus, mas de atitudes. Ao reagir na mesma moeda, o gay tradicional assimilará o espírito da coisa.
Apesar de os closes de penetração serem cortados nesta cópia "para festivais", "Skin Flick" é um antiproduto, no limite entre arte e pornografia, difícil de ser digerido, para público restrito. Ao mesmo tempo, fotografia, montagem e direção de atores são, quase sempre, originais e vibrantes, perigosamente sedutores.


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