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MIX BRASIL 99
Radical, Bruce LaBruce namora "skins-homo"
ALVARO MACHADO
especial para a Folha
O punk "Skin Flick" traz de volta hoje para a tela do Mix Brasil o
"enfant terrible" canadense Bruce
LaBruce, que visitou o festival
com vários filmes em 97.
Em termos de intenções e de estilo, a produção atual, rodada em
vídeo, revela amadurecimento.
Porém "amadurecimento" é uma
palavra no mínimo paradoxal para falar de um cineasta que traz à
tona os desejos e ações saídos do
mais profundo inconsciente e tipos que representam marginalidade dentro da própria canalha.
Se censura houvesse no país,
LaBruce a ganharia inteira para si.
Para começar, a homossexualidade que ele retrata em "Skin Flick"
não é aquela já absorvida pelo sistema. Misturando atores e tipos
colhidos nas ruas, seu filme aborda, em Londres, um grupo que
existe também em outras capitais
da Europa e que está no limite de
todas as categorias: os skinheads
homo, como os que "atuam" em
alguns filmes pornô mais radicais.
Os "skin-homo" reúnem todas
as qualidades da exceção. São politicamente errados em sua fascinação pelo totalitarismo (um deles se masturba lendo "Mein
Kampf", de Hitler, e ejacula sobre
o livro); sexualmente errados nas
suas abordagens sexuais ("sujos",
sem camisinha, atentando à moral pública, mais violentos nas carícias do que bestas selvagens); e
são, ainda, escroques e ladrões.
Execrados pelos carecas nazi
"tradicionais" por serem gays,
chegam a admitir judeus em seu
bando apátrida. Para surpresa geral, seus depoimentos dão conta
de relacionamentos de longa duração, quando a tendência do
"mainstream" é não guardar laços afetivos. Também, para horror dos gays ortodoxos, praticam
sexo hetero, quando elas são destrambelhadas e quentes.
Assim, LaBruce deixa as curtições leves e vai de encontro ao
que acredita ser ainda revolucionário sexualmente. Em sua história, uma "bicha fina" cede à animalidade de um "skin-homo"
num parque e depois é roubado e
barbarizado em seu apartamento,
com seu companheiro negro.
Além de sabermos que a coisa
não é tão fácil quando o tom de
pele é mais escuro, aqui LaBruce
expõe sua teoria: sexo é contaminação, não só de bactérias e vírus,
mas de atitudes. Ao reagir na
mesma moeda, o gay tradicional
assimilará o espírito da coisa.
Apesar de os closes de penetração serem cortados nesta cópia
"para festivais", "Skin Flick" é um
antiproduto, no limite entre arte e
pornografia, difícil de ser digerido, para público restrito. Ao mesmo tempo, fotografia, montagem
e direção de atores são, quase
sempre, originais e vibrantes, perigosamente sedutores.
Avaliação:
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