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Pinacoteca inaugura hoje três mostras de fotografias
EDER CHIODETTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Três incursões fotográficas, três
formas de trair a já combalida
idéia de objetividade das imagens
técnicas, permeiam as mostras
"Boa Noite, Paulicéia!", de Eduardo Muylaert, "A Língua das Coisas", de Roberta Dabdab, e "Raízes", de Galileu Garcia Júnior, que
serão abertas hoje na Pinacoteca
do Estado, na Luz.
Muylaert e Garcia Júnior exibem duas abordagens sobre a cidade, enquanto Dabdab realiza
uma viagem de descobertas pelo
interior das casas em que viveu
nos últimos anos.
Em "Boa Noite, Paulicéia!",
Muylaert dá seqüência ao seu trabalho de retratar cidades, como já
havia feito em seu livro "O Espírito dos Lugares". As cerca de 70
imagens que integram a mostra
foram obtidas no espaço de apenas uma noite rodando pelo centro e arredores de São Paulo.
As imagens em preto-e-branco
surgem com forte granulação,
formando um grande ruído, que
resulta na recusa de uma abordagem documental para filiar-se a
uma tradição pictórica de busca
de atmosferas. O trabalho ganha
em intensidade quando enfoca
detalhes da urbe, como janelas
por onde escapam luzes tênues ou
em cenas mais sombrias que geram um embotamento da nossa
percepção imediata.
Nestas últimas resta sobre o papel fotográfico o testemunho da
quase impossibilidade da captura
da cidade devido à densidade da
sombra da noite. Resulta num curioso jogo de evocação e ocultação tanto da cidade imaginária
criada pelo autor como da própria práxis fotográfica. A cidade
segredada, construída por grãos
de prata, existente só na fotografia
e na imaginação que ela ativa, é
muito mais pulsante e expressiva
que a cidade real. Por isso o trabalho perde a força quando enfoca
locais mais conhecidos e mais iluminados, como o Minhocão. A
revelação do referente obstrui a
incursão pela cidade imaginária.
Na série "Raízes", Garcia Júnior
retrata a convivência por vezes
cruel entre a natureza e o concreto
na cidade de São Paulo, sem deixar de perceber um romantismo
contido nesta relação inusitada.
Em "A Língua das Coisas", Dabdab olha o interior de sua casa como alguém que também circula
por uma cidade revelando ora a
intimidade do convívio com os
objetos do seu entorno, ora o estranhamento gerado pela composição fotográfica. Trata-se de uma
mostra que consegue alinhavar de
forma poética esses fragmentos
aparentemente desconexos.
A unidade surge da exploração
precisa da luz e da originalidade
dos enquadramentos sem devaneios. É uma veradeira ode ao
olhar, capacidade de perceber as
formas e a luz naquilo que está o
tempo todo presente e que normalmente é apagado da nossa visão pela excessiva proximidade.
Assim, os fios de cabelos no azulejo do banheiro e os brinquedos
dos filhos soltos no chão da sala
ganham uma dimensão inesperada. O registro contido, o enquadramento clássico e o repouso
dos objetos remetem a um silêncio. O silêncio de quem, se observando, observa o mundo com
olhos renovados e o reinventa a
golpes de luz.
Mostras de Eduardo Muylaert, Roberta Dabdab e Galileu Garcia Júnior
Quando: ter. a dom., das 10h às 18h;
abre hoje, das 11h às 14h; até 14/5
Onde: Pinacoteca do Estado (pça. da
Luz, 2, Luz, tel. 3229-9844)
Quanto: R$ 4 (grátis aos sáb.)
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