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"COMO SE NÃO COUBESSE NO TEMPO"
Hoje é o último dia da companhia no Municipal
Balé da Cidade estréia coreografia com altos e baixos
INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA
Na vida cotidiana, nossos
gestos se adaptam automaticamente à urgência de cada situação. Nossos movimentos nos passam despercebidos. É só no
aprendizado, ou reaprendizado,
que nos damos conta de como
funciona o corpo. "Como se Não
Coubesse no Peito", dançado pela
Cia. 2 do Balé da Cidade, quinta
passada, no Teatro Municipal,
parte dos gestos do cotidiano, tornados conscientes e estilizados,
para falar do amor e da angústia
dos encontros e desencontros.
Cartas de amor, fotografias,
lembranças. Mais as falas e os movimentos (ainda um pouco artificiais). Tudo para desenhar os clichês da vida cotidiana, realidades
do dia-a-dia e cenas da intimidade, nas quais cada um pode se reconhecer e estranhar.
A espera de uma chamada telefônica se prolonga por todo o espetáculo. Uma mulher tem seus
movimentos manipulados por
um homem, seus gestos se tornam repetitivos, num aparente
descontrole.
Um corpo se dobra, na angústia
das impossibilidades. São várias
cenas assim, simultaneamente no
palco. Mas sua densidade ou espontaneidade ainda está por vir.
Montado em um mês e pouco, o
trabalho precisa maior amadurecimento não só dos bailarinos,
mas da própria coreografia.
Denise Namura e Michael Bugdahn, os coreógrafos, exploram
mímica, teatro e dança, criando
personagens para cada indivíduo.
Esse tipo de processo demanda
tempo; ainda mais quando se
pensa na formação primordialmente clássica dos bailarinos. Para ficar só nos movimentos: a separação das articulações e a tonicidade muscular, necessárias para
a naturalidade dos gestos, ainda
deixam a desejar.
Por instantes isolados, tem-se
grandes cenas, como a "angústia"
de Beth Risoleu, a "impossibilidade da fala" nas expressões de Armando Aurich e a fluência de
Maurício Martins nos movimentos ondulatórios.
A trilha musical, também de
Namura e Bugdahn, alterna canções, música tecno e declamações,
numa sequência de "sketches"
que foge à linearidade.
Os figurinos, de Geraldo Lima
Júnior, refletem bem a individualidade dos intérpretes.
Uma arte produzida por pressão de agenda fica quase sempre
comprometida. Que as nuances,
os acentos de humor, a competência e a maturidade dos intérpretes consigam agora superar as
dificuldades, para que o espetáculo possa chegar a si.
Como se Não Coubesse no
Tempo
De: Denise Namura e Michael Bugdhan
Com: Cia. 2 do Balé da Cidade
Onde: Teatro Municipal (pça. Ramos de
Azevedo, s/nš; tel. 222-8698)
Quando: hoje, às 21h
Quanto: de R$ 2 a R$ 8
Patrocinador: Petrobras.
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