São Paulo, segunda-feira, 18 de junho de 2001

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"COMO SE NÃO COUBESSE NO TEMPO"

Hoje é o último dia da companhia no Municipal

Balé da Cidade estréia coreografia com altos e baixos

INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA

Na vida cotidiana, nossos gestos se adaptam automaticamente à urgência de cada situação. Nossos movimentos nos passam despercebidos. É só no aprendizado, ou reaprendizado, que nos damos conta de como funciona o corpo. "Como se Não Coubesse no Peito", dançado pela Cia. 2 do Balé da Cidade, quinta passada, no Teatro Municipal, parte dos gestos do cotidiano, tornados conscientes e estilizados, para falar do amor e da angústia dos encontros e desencontros.
Cartas de amor, fotografias, lembranças. Mais as falas e os movimentos (ainda um pouco artificiais). Tudo para desenhar os clichês da vida cotidiana, realidades do dia-a-dia e cenas da intimidade, nas quais cada um pode se reconhecer e estranhar.
A espera de uma chamada telefônica se prolonga por todo o espetáculo. Uma mulher tem seus movimentos manipulados por um homem, seus gestos se tornam repetitivos, num aparente descontrole.
Um corpo se dobra, na angústia das impossibilidades. São várias cenas assim, simultaneamente no palco. Mas sua densidade ou espontaneidade ainda está por vir. Montado em um mês e pouco, o trabalho precisa maior amadurecimento não só dos bailarinos, mas da própria coreografia.
Denise Namura e Michael Bugdahn, os coreógrafos, exploram mímica, teatro e dança, criando personagens para cada indivíduo.
Esse tipo de processo demanda tempo; ainda mais quando se pensa na formação primordialmente clássica dos bailarinos. Para ficar só nos movimentos: a separação das articulações e a tonicidade muscular, necessárias para a naturalidade dos gestos, ainda deixam a desejar.
Por instantes isolados, tem-se grandes cenas, como a "angústia" de Beth Risoleu, a "impossibilidade da fala" nas expressões de Armando Aurich e a fluência de Maurício Martins nos movimentos ondulatórios.
A trilha musical, também de Namura e Bugdahn, alterna canções, música tecno e declamações, numa sequência de "sketches" que foge à linearidade.
Os figurinos, de Geraldo Lima Júnior, refletem bem a individualidade dos intérpretes.
Uma arte produzida por pressão de agenda fica quase sempre comprometida. Que as nuances, os acentos de humor, a competência e a maturidade dos intérpretes consigam agora superar as dificuldades, para que o espetáculo possa chegar a si.

Como se Não Coubesse no Tempo

  
De: Denise Namura e Michael Bugdhan
Com: Cia. 2 do Balé da Cidade
Onde: Teatro Municipal (pça. Ramos de Azevedo, s/nš; tel. 222-8698)
Quando: hoje, às 21h
Quanto: de R$ 2 a R$ 8
Patrocinador: Petrobras.



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