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CINEMA/CRÍTICA
História precisava ser contada, mas escorre pelo ralo
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
Não é difícil entender por que
"Em Nome de Deus" ganhou o Leão de Ouro em Veneza.
Competições cinematográficas
são no mínimo complicadas e,
quando aparece um filme assim,
"acima de qualquer suspeita", júris tendem a tomar a decisão menos polêmica, aquela que dificilmente será contestada.
Trata-se de um filme-denúncia.
Conta uma história obscura da Irlanda católica: mulheres oprimidas, mantidas como escravas em
um convento de freiras perversas.
Como "ser contra" o filme?
Mas, é claro, não se trata de ser
contra ou a favor. O fato é que
"Em Nome de Deus" teria muito
mais impacto se o diretor, Peter
Mullan, não se tivesse deixado levar pela facilidade da denúncia.
Ele explora as características mais
evidentes de sua "história real" e
faz questão de sublinhar o óbvio.
O filme nos conta que, em pleno
século 20, mulheres consideradas
pecadoras eram enviadas para
conventos, onde eram humilhadas. No prólogo, vemos três jovens: Margaret foi estuprada pelo
primo; Rose acaba de ter um filho
que é entregue para a adoção contra sua vontade e Bernadette, órfã,
sorri para rapazes no orfanato.
Vê-se, a partir daí, todo tipo de
brutalidade. Suicídio, loucura e
revolta ocasional são as únicas
opções daquelas jovens.
Mullan não se contenta em
mostrar, ele precisa comentar. Ao
mesmo tempo, evita temas mais
difíceis, como a repressão sexual e
a contextualização política, que
passam quase despercebidos. E é
assim que um grande tema se dilui e escorre pelo ralo.
Em Nome de Deus
The Magdalene Sisters
Produção: Irlanda/Reino Unido, 2002
Direção: Peter Mullan
Com: Geraldine McEwan, Dorothy Duffy
Quando: a partir de hoje nos cines
Bristol, Villa-Lobos e circuito
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