São Paulo, segunda-feira, 19 de janeiro de 2004

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CINEMA/CRÍTICA

História precisava ser contada, mas escorre pelo ralo

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

Não é difícil entender por que "Em Nome de Deus" ganhou o Leão de Ouro em Veneza. Competições cinematográficas são no mínimo complicadas e, quando aparece um filme assim, "acima de qualquer suspeita", júris tendem a tomar a decisão menos polêmica, aquela que dificilmente será contestada.
Trata-se de um filme-denúncia. Conta uma história obscura da Irlanda católica: mulheres oprimidas, mantidas como escravas em um convento de freiras perversas. Como "ser contra" o filme?
Mas, é claro, não se trata de ser contra ou a favor. O fato é que "Em Nome de Deus" teria muito mais impacto se o diretor, Peter Mullan, não se tivesse deixado levar pela facilidade da denúncia. Ele explora as características mais evidentes de sua "história real" e faz questão de sublinhar o óbvio.
O filme nos conta que, em pleno século 20, mulheres consideradas pecadoras eram enviadas para conventos, onde eram humilhadas. No prólogo, vemos três jovens: Margaret foi estuprada pelo primo; Rose acaba de ter um filho que é entregue para a adoção contra sua vontade e Bernadette, órfã, sorri para rapazes no orfanato.
Vê-se, a partir daí, todo tipo de brutalidade. Suicídio, loucura e revolta ocasional são as únicas opções daquelas jovens.
Mullan não se contenta em mostrar, ele precisa comentar. Ao mesmo tempo, evita temas mais difíceis, como a repressão sexual e a contextualização política, que passam quase despercebidos. E é assim que um grande tema se dilui e escorre pelo ralo.


Em Nome de Deus
The Magdalene Sisters

 
Produção: Irlanda/Reino Unido, 2002
Direção: Peter Mullan
Com: Geraldine McEwan, Dorothy Duffy
Quando: a partir de hoje nos cines Bristol, Villa-Lobos e circuito



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