São Paulo, sábado, 19 de março de 2011

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CRÍTICA DOCUMENTÁRIO

Documentário sobre Elza Soares vai bem quando evita os elogios

MARCUS PRETO
DE SÃO PAULO

Antes mesmo dos créditos iniciais de "Elza", filme em que Izabel Jaguaribe e Ernesto Baldan buscam rascunhar um perfil de Elza Soares, a cantora rasga-se em superinterpretação do clássico "Lama": "Se meu passado foi lama/ Hoje quem me difama/ Viveu na lama também".
É sobre a fertilidade desse passado dramático e lamacento -ora real, ora imaginado pela própria cantora- que Elza Soares construiu sua persona artística.
Nem tudo é verdade. E é aí que mora a riqueza da personagem. "Os fingimentos dela, as verdades dela, tudo se mistura", resume o violonista João de Aquino.
O filme vai muito bem quando pega essa trilha. Quando coloca, uma na frente da outra, as duas Elzas. A real e a publicada por ela.
Quando Elza (a real ou a outra?) diz que a rouquidão da voz veio de carregar água. Que "o mundo inteiro veio estudar minha garganta". Que tem uma terceira corda vocal. Que disse ao pai que queria ser prostituta. Que ficou sozinha em cena porque discos voadores tomaram o céu e o público fugiu.
"É uma lenda -não é propriamente mentira. É uma maneira de rearrumar os elementos reais para dizer uma coisa um tanto mais idealizada sobre si mesma", ele diz. "Contar fatuamente não faz jus ao que você é. Às vezes, uma imagem dessas, como as que ela criou bem criadas, está dizendo mais sobre ela que informações factuais."
É o ponto nevrálgico da personagem e, ali sim, começa-se a desenhar seu perfil. Mas isso é a menor parte do filme. O mais é um desfile de elogios ao talento da cantora, feitos por gente do samba e de fora dele, como Maria Bethânia, Paulinho da Viola, Elton Medeiros e Mart'nália. Elogios? A quem interessam, a não ser aos elogiados?



ELZA
DIREÇÃO Izabel Jaguaribe e Ernesto Baldan
PRODUÇÃO Brasil, 2008
ONDE nos cines Livraria Cultura e Frei Caneca
CLASSIFICAÇÃO livre
AVALIAÇÃO regular



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