São Paulo, quinta, 19 de março de 1998

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ANÁLISE
Selma vem para agitar

Divulgação
Dona Selma do Coco, 63, que está lançando CD pelo selo Paradoxx


da Reportagem Local

De pés descalços, ela lembra o vigor de Cesária Évora. Nos rodopios e fôlego, nos remete a Clementina de Jesus.
Com um pouco de cada uma, sem ter conhecido nenhuma delas, Selma do Coco, 63, é a mulher mais animada do Brasil. Até 1995, embalava apenas rodas de "cachaceiros" pernambucanos e turistas em festas de Olinda.
No festival "Abril pro Rock", do ano passado, viu a sua vida mudar: virou estrela cultuada pelos jovens de classe média de Recife. Na sequência, caiu como uma estranha no ninho drum'n'bass da "Babel", uma mostra moderna de São Paulo. Ninguém ficou parado.
E nem foi preciso mudar tanto o passo. O coco, que pode ser dançado com o corpo sendo jogado para frente e algumas umbigadas, não estava tão longe da ginástica da música eletrônica. O ritmo de Selma é o coco-de-roda, uma das modalidades do gênero, que é marcado por palmas, que seguram o ritmo acelerado, e um coro de meninas que repete sempre os últimos versos.
O mesmo coco pode ter variações. Jackson do Pandeiro fazia samba-coco, menos folclórico e com mais swing.
Dois dos mais inquietos compositores da nova safra de Recife, Otto (ex-Mundo Livre, agora em carreira solo) e Ortinho (também vocalista da aditivada banda Querosene Jacaré) são responsáveis pela renovação do coco.
Depois da "Babel", a próxima parada foi Berlim. "Eles estavam meio frios, sem jeito, mas acabaram na farra", relata a cantora.
Agora, chega a São Paulo, com o medo de avião de sempre e com a vida mudada pelo sucesso que fez no Carnaval de Olinda e Recife. A sua música "A Rolinha" foi um estouro. O sucesso rendeu um contrato com a Paradoxx, de São Paulo, que vai lançar em todo o país, em abril, "Cultura Viva", uma antologia com o melhor de Selma do Coco.
Além da "Rolinha", que tem um refrão safado ("pega, pega, pega/ Pega aqui na minha rola"), o disco tem o "Coco Machista", de deixar qualquer feminista desajeitada.
"Mulher que é falsa ao homem/ tem que passar fome e apanhar", dizem os versos.
Viúva desde os 30 anos, Dona Selma teve 14 filhos. Treze morreram. O que resistiu, Zezinho, toca com ela. (XS)



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