São Paulo, terça, 19 de maio de 1998

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TEATRO
Peça é apresentada hoje e amanhã
Churchill inova com "Blue Heart"

NELSON DE SÁ
da Reportagem Local

A peça inglesa "Blue Heart", de Caryl Churchill, faz hoje a primeira de duas apresentações em São Paulo, como parte de uma turnê mundial iniciada no Canadá e que ainda passa por Alemanha e Rússia, entre outros países.
Churchill, 60, rivaliza com Harold Pinter pelo posto de maior autor da Inglaterra, hoje.
"Blue Heart", sua primeira peça depois de três anos em que chegou a desistir de escrever, estreou há menos de um ano para fartos elogios da crítica londrina. Foi descrita como "a peça do ano" pelo jornal "The Independent".
Os maiores elogios se voltaram à experimentação formal, à inovação estilística. O trabalho foi de certa maneira surpreendente, para uma autora muito identificada com um ideário mais político, em peças como "Cloud Nine".
Em entrevista por telefone, de Londres, Churchill diz que de fato, embora siga com as mesmas idéias, "elas provavelmente não têm estado tão em primeiro plano" no que vem escrevendo.
"Houve um momento de certo cuidado em escrever sobre coisas socialistas e feministas, o que era novo e interessante", diz. "Mas eu não estou muito interessada em seguir fazendo as mesmas coisas, escrevendo da mesma forma."
"Blue Heart" é composta de dois textos curtos, "Heart's Desire" e "Blue Kettle", o primeiro sobre uma família que espera a volta da filha da Austrália, o segundo sobre um homem que finge estar à procura de sua mãe perdida.
O efeito formal de maior impacto acontece no segundo texto, com a dissolução do diálogo em palavras e depois sílabas, como em alguma peça do "teatro do absurdo", mas com um humor desconcertante, mais próprio dos comediógrafos populares.
Recusando qualquer classificação, de formalista ou política, Churchill diz que não pensa o teatro dessa maneira.
"Na verdade, nos últimos dez anos eu me tornei muito mais interessada num teatro visual, por exemplo, do que antes", diz. "Trabalhei com dança, com música. E eu sempre fui interessada primeiro no texto, nas palavras. Então, eu tenho jogado em várias direções de uma vez."
Para Max Stafford-Clark, diretor de "Blue Heart", Caryl Churchill é assim mesmo, está sempre se reinventando. Ele cita duas das peças mais politizadas, "Top Girls" e "Serious Money", como exemplos de experimentação.
Em "Serious Money", de 87, Churchill escreveu uma comédia toda em versos -o que não impediu que alcançasse sucesso de público, tanto em Londres como na Broadway, em Nova York.


Peça: Blue Heart Autora: Caryl Churchill
Direção: Max Stafford-Clark Quando: hoje e amanhã, às 21h Onde: teatro Sérgio Cardoso (r. Rui Barbosa, 153, tel. 288-0136) Quanto: R$ 10



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