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São Paulo, sábado, 19 de julho de 2003

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"PESSOAS INVISÍVEIS"/"CASCA DE NOZ"

Com direção de Paulo Moraes, duas peças são encenadas pela cia. Armazém

Grupo se impõe entre sonhos e declamações

Lenise Pinheiro/Folha Imagem
Cena de "Pessoas Invisíveis', da Armazém Cia. de Teatro, baseada nos quadrinhos de Will Eisner; a peça, dirigida por Paulo Moraes, está em cartaz no Sesc Consolação


SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA

É pela imagem que a Armazém Cia. de Teatro seduz. Com atores pendurados a três metros do chão ou de ponta cabeça, uma composição rigorosa e marcação coreográfica, o diretor Paulo de Moraes consegue fazer com que por momentos o sonho tome conta do palco.
Em "Pessoas Invisíveis", fantasmas alinhavam os melodramas urbanos de Will Eisner, ou um menino conta na primeira pessoa a criação do universo, em "Casca de Noz", inspirado em contos de Ítalo Calvino.
No entanto, quando falam, os atores têm tendência a adotar um tom declarativo, que se filia ao teatro popular, mas que acaba se tornando como uma legenda dispensável para belas imagens.
A falta de sutileza no tom não chega porém a comprometer o desempenho dos atores: Simone Mazzer contagia "Pessoas Invisíveis" com seu vigor no canto e no insulto, enquanto Patrícia Selonk conduz com grande empatia a narrativa de "Casca de Noz".
Esse tom tem maior eficácia para os melodramas urbanos do quadrinista americano, que ganha de certa forma com o despudor, já que o contraponto de sutileza é garantido pelo cenário que sabe evocar a narrativa em quadrinhos das "graphic novels".
Pequenos dramas pessoais são assim recortados pelas janelas do prédio nova-iorquino, e a simultaneidade das ações é amarrada pela trilha dinâmica: há um tango no tráfego cuja inventividade faz entrever o fantasma de Charlie Chaplin.
"Casca de Noz", por outro lado, se enfraquece muito com uma indecisão entre um teatro juvenil de divulgação científica e um teatro simbolista de perturbadora poesia. Se é pungente em alguns trechos -o garoto Qfwfq, responsável pelo desenvolvimento do universo, apresenta seu pai como um ferro de estrutura de ponte e a mãe como uma lesma- o esforço de transformar teorias científicas complexas citadas quase textualmente em uma narrativa dinâmica muitas vezes soa arbitrário e pouco elucidativo.
Não esclarece quem não está familiarizado com o ponto de partida das metáforas, e pode soar pueril para quem domina a área. Para retomar uma expressão do texto, a montagem é bonita, mas infantil.
Há 15 anos na estrada, o Armazém Companhia de Teatro faz valer seu belo currículo.
A companhia está entre as melhores, mas ainda tem recursos para amadurecer ainda mais.

Pessoas Invisíveis


   
Dramaturgia: Maurício Arruda Mendonça e Paulo de Moraes
Direção: Paulo de Moraes
Com: Simone Mazzer, Marcos Martins, Fabiano Medeiros, entre outros
Onde: Sesc Consolação - teatro Sesc Anchieta (r. Dr. Vila Nova, 245, Vila Buarque, região central, tel. 3234-3000)
Quando: de sex. a sáb., às 21h, e dom., às 19h; até 17/8
Quanto: de R$ 15 a R$ 30

Casca de Noz


  
Texto: Ítalo Calvino
Direção: Paulo de Moraes
Com: Fabiano Medeiros, Sérgio Medeiros, Liliana Castro
Onde: Sesc Consolação - teatro Sesc Anchieta (r. Dr. Vila Nova, 245, Vila Buarque, região central, tel. 3234-3000)
Quando: qua. e qui., às 21h; até 14/8
Quanto: de R$ 10 a R$ 20



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