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"PESSOAS INVISÍVEIS"/"CASCA DE NOZ"
Com direção de Paulo Moraes, duas peças são encenadas pela cia. Armazém
Grupo se impõe entre sonhos e declamações
Lenise Pinheiro/Folha Imagem
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Cena de "Pessoas Invisíveis', da Armazém Cia. de Teatro, baseada nos quadrinhos de Will Eisner; a peça, dirigida por Paulo Moraes, está em cartaz no Sesc Consolação |
SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
É pela imagem que a Armazém Cia. de Teatro seduz.
Com atores pendurados a três
metros do chão ou de ponta cabeça, uma composição rigorosa e
marcação coreográfica, o diretor
Paulo de Moraes consegue fazer
com que por momentos o sonho
tome conta do palco.
Em "Pessoas Invisíveis", fantasmas alinhavam os melodramas
urbanos de Will Eisner, ou um
menino conta na primeira pessoa
a criação do universo, em "Casca
de Noz", inspirado em contos de
Ítalo Calvino.
No entanto, quando falam, os
atores têm tendência a adotar um
tom declarativo, que se filia ao
teatro popular, mas que acaba se
tornando como uma legenda dispensável para belas imagens.
A falta de sutileza no tom não
chega porém a comprometer o
desempenho dos atores: Simone
Mazzer contagia "Pessoas Invisíveis" com seu vigor no canto e no
insulto, enquanto Patrícia Selonk
conduz com grande empatia a
narrativa de "Casca de Noz".
Esse tom tem maior eficácia para os melodramas urbanos do
quadrinista americano, que ganha de certa forma com o despudor, já que o contraponto de sutileza é garantido pelo cenário que
sabe evocar a narrativa em quadrinhos das "graphic novels".
Pequenos dramas pessoais são
assim recortados pelas janelas do
prédio nova-iorquino, e a simultaneidade das ações é amarrada
pela trilha dinâmica: há um tango
no tráfego cuja inventividade faz
entrever o fantasma de Charlie
Chaplin.
"Casca de Noz", por outro lado,
se enfraquece muito com uma indecisão entre um teatro juvenil de
divulgação científica e um teatro
simbolista de perturbadora poesia. Se é pungente em alguns trechos -o garoto Qfwfq, responsável pelo desenvolvimento do universo, apresenta seu pai como um
ferro de estrutura de ponte e a
mãe como uma lesma- o esforço
de transformar teorias científicas
complexas citadas quase textualmente em uma narrativa dinâmica muitas vezes soa arbitrário e
pouco elucidativo.
Não esclarece quem não está familiarizado com o ponto de partida das metáforas, e pode soar
pueril para quem domina a área.
Para retomar uma expressão do
texto, a montagem é bonita, mas
infantil.
Há 15 anos na estrada, o Armazém Companhia de Teatro faz valer seu belo currículo.
A companhia está entre as melhores, mas ainda tem recursos
para amadurecer ainda mais.
Pessoas Invisíveis
Dramaturgia: Maurício Arruda
Mendonça e Paulo de Moraes
Direção: Paulo de Moraes
Com: Simone Mazzer, Marcos Martins,
Fabiano Medeiros, entre outros
Onde: Sesc Consolação - teatro Sesc
Anchieta (r. Dr. Vila Nova, 245, Vila
Buarque, região central, tel. 3234-3000)
Quando: de sex. a sáb., às 21h, e dom., às
19h; até 17/8
Quanto: de R$ 15 a R$ 30
Casca de Noz
Texto: Ítalo Calvino
Direção: Paulo de Moraes
Com: Fabiano Medeiros, Sérgio
Medeiros, Liliana Castro
Onde: Sesc Consolação - teatro Sesc
Anchieta (r. Dr. Vila Nova, 245, Vila
Buarque, região central, tel. 3234-3000)
Quando: qua. e qui., às 21h; até 14/8
Quanto: de R$ 10 a R$ 20
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