São Paulo, Segunda-feira, 19 de Julho de 1999 |
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O BOM DO DIA Obra de Zeffirelli passa na Cinemateca "Romeu e Julieta" se amam no cinema
PAULO SANTOS LIMA free-lance para a Folha Shakespearianos e apaixonados de plantão têm um bom motivo para ir à Sala Cinemateca. "Romeu e Julieta" (68), o mais conhecido filme de Zeffirelli, é exibido hoje na mostra "Teatro, Cinema e Psicanálise". Após a exibição, o ator de teatro Wolney de Assis se sentará ao lado da psicanalista Maria Cecília Andreucci, e ambos abrirão um debate sobre o filme, mediados pelo também psicanalista Nelson Montag. Mas muitos devem estar perguntando: por que o "Romeu e Julieta" de Zeffirelli, filme que não conseguiu os louros de boa parte da crítica? Bem, não houve adaptação mais fiel ao clássico de William Shakespeare -é só lembrar da adrenalínica versão com Leonardo DiCaprio e Claire Danes, feita em 1995. Com Zeffirelli, as falas tentam se manter no original e a história, se tem omissões, trilha o caminho teatral do texto do dramaturgo inglês. O empostado diretor fez questão de rodar seu filme em belíssimas locações italianas. O elenco, não menos belo, não consegue extravasar a dor de um casal que se ama, mas que também se censura e luta contra seus respectivos mundos. Algo até perdoável, já que Olivia Hussey (Julieta) e Leonard Whiting (Romeu) eram dois adolescentes que provavelmente nem sabiam o que era um inocente beijo. Mas o que denuncia as limitações de "Romeu e Julieta" é a a própria história, uma das mais "cinematográficas" de Shakespeare, juntando amor, tensão e ação. Romeu e Julieta se conhecem e se apaixonam num baile de máscaras sem saber que pertencem a famílias rivais (os Capuleto e os Montecchio). A rixa familiar não diminui a paixão do jovem casal, que mantém o romance às escondidas. Ambos recebem ajuda para "quebrar a muralha", do padre à camareira. Mas, ironicamente, o grande amigo e aliado de Romeu, Mercutio, indiretamente detona uma situação que o casalzinho só resolverá com a morte -a única fuga viável para os dois, já que o truque que planejam não dá certo. Franco Zeffirelli poderia ter feito uma obra-prima, mas errou na mão e manteve um ritmo que o teatro ultrapassa galopando. O diretor italiano não soube se beneficiar das técnicas de montagem. Mas "Romeu e Julieta", o filme, comoveu muitas pessoas, principalmente os apaixonados que se deleitavam com sua trilha sonora, bela e melancólica. E não existe melhor veículo para radiografar o diretor Zeffirelli. Sua filmografia irregular atesta um artesão da cenografia, mas não da forma e do conteúdo. Seus filmes repercutem por algo bem externo a eles: as atitudes do próprio diretor, que costuma espinafrar seus colegas de ofício quando suas obras fracassam. E "Romeu e Julieta" demonstra que, mesmo cheio de imperfeições, uma ótima premissa e carisma fazem uma obra ser, ao menos, respeitada e referencial. Texto Anterior: Crítica: "Lo Schiavo" pede boa dose de patriotismo Índice |
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