São Paulo, terça, 20 de janeiro de 1998.



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JAZZ
Acompanhado por seu grupo, o contrabaixista norte-americano faz duas apresentações no Bourbon Street
Ron Carter traz sua elegância à cidade

CARLOS CALADO
especial para a Folha

Um sinônimo de elegância musical desembarca em São Paulo para duas apresentações. O contrabaixista norte-americano Ron Carter, 60, toca no Bourbon Street, acompanhado por seu grupo.
Além do percussionista Stevie Kroon, o quarteto destaca dois talentosos jazzistas da nova geração: o pianista Stephen Scott e o baterista Lewis Nash.
Ron Carter vem imprimindo sua marca na história do jazz desde os anos 60, quando integrou o grupo do trompetista Miles Davis.
Durante quatro décadas, acompanhou uma infinidade de grandes músicos, como Sonny Rollins, McCoy Tyner, Jim Hall e Chet Baker. Em 1992, uniu-se aos antigos parceiros Herbie Hancock, Wayne Shorter e Tony Williams na superbanda Tribute to Miles.
Falando à Folha por telefone, de Montevidéu, Carter disse não ter repertório definido para as apresentações de seu quarteto. "Mudamos bastante a cada noite."
Mesmo assim, diz o contrabaixista, é bem provável que o grupo toque algum tema de seu último álbum, "The Bass and I", recém-lançado no mercado internacional pelo selo Blue Note.
Nesse CD, o quarteto improvisa três composições de Ron Carter ("Blues for D.P.", "Mr. Bow Tie" e "Double Bass"), além de revisitar "standards", como "The Shadow of Smile".
"Esse disco foi gravado nos EUA, em janeiro do ano passado, na volta da temporada que fizemos no Rio de Janeiro", recorda.
Apesar de estar hoje mais identificado com o chamado jazz "mainstream", o eclético Carter não tem se fechado a experiências com outras correntes musicais contemporâneas.
Basta ouvir a gravação que ele fez ao lado do rapper francês MC Solaar, no álbum-projeto "Stolen Moments: Red Hot' Cool" (Red Hot/GRP), em 1994.
"Jamais esnobo música", diz Carter, respondendo a puristas como o trompetista Wynton Marsalis, que não aceitam a existência de correntes atuais como o acid jazz ou o jazz-rap. "Eu ignoro as opiniões dessa gente."
No entanto, o mestre do contrabaixo parece não ter ilusão quanto à possibilidade de o acid jazz atrair o público mais jovem para o jazz estrito.
"Não acredito que esses garotos passem a consumir discos de jazz, mas isso não invalida esse tipo de música", considera.
Ainda assim, Carter revela-se otimista quanto ao futuro do gênero. "Não sei quem vai tocá-lo, ou as formas que ele poderá assumir, mas o jazz sempre estará aí."

Show: Ron Carter Quando: hoje e amanhã, às 22h Onde: Bourbon Street (r. dos Chanés, 127, Moema, tel. 5561-1643) Quanto: R$ 30 (couvert artístico com direito a um drinque)


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