São Paulo, Quinta-feira, 20 de Janeiro de 2000


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ARTES PLÁSTICAS
Espaço Porto Seguro abre para obra que incorporou fotografia de maneira inovadora
Farnese ganha ampla mostra em SP

Reprodução
Obra de 1995 em que Farnese ironiza o cânone Rita Hayworth


free-lance para a Folha

Conhecido por suas "assemblages" (apropriação de objetos para integrar uma obra de arte), ou não tão conhecido quanto deveria, Farnese de Andrade (1926-1996) reincidia na utilização de certos objetos: bonecas, ex-votos, oratórios, gamelas, fotografias.
É sobre o uso que o artista mineiro fez da fotografia que versa a exposição que começa hoje para o público no Espaço Porto Seguro. Com curadoria de Helouise Costa, historiadora de fotografia e curadora do MAC, a mostra reúne 19 obras, a maioria de coleções particulares.
Helouise considera um enigma o grande desconhecimento da obra do artista até hoje. "Nunca entendi o motivo da ausência dele em importantes retrospectivas da arte brasileira, mas é possível atribuí-la ao fato de que Farnese é de uma época em que a arte contemporânea esteve muito ligada à política, de artistas muito engajados, enquanto sua obra era introspectiva e existencialista."
A curadora refere-se às décadas de 60 e 70 no Brasil, quando imperavam o neoconcretismo, a nova figuração e a arte conceitual em geral. Nadando contra a corrente, Farnese de Andrade debruçava-se sobre a interioridade, sobre questões de vida e morte, solidão e memória.
Farnese foi pioneiro no rompimento de limites entre arte e fotografia no Brasil, recurso depois utilizado por Wesley Duke Lee, Carlos Fajardo, Antonio Manuel e outros artistas. A fotografia dentro do trabalho de Farnese não é apenas mais um elemento entre os diversos de que ele se apropriava para fazer suas "assemblages".
"A foto tem uma relação com a poética do artista que é mais profunda do que se imagina, por ser um elemento que congela espaço e tempo e fornece a possibilidade de trabalhar com reminiscências, parte essencial na obra dele", explica a curadora.
As imagens eram encapsuladas em resina de poliéster antes de incorporadas às obras, procedimento cujo simbolismo demonstra a relevância de sua presença física nos trabalhos. Uma frase do próprio Farnese mostra isso: "A idéia do poliéster pra mim seria realizada totalmente se eu conseguisse aprisionar as pessoas de que gosto dentro de blocos enormes de poliéster, definitivamente perto de mim".
As fotografias aparecem por vezes, assim como os ex-votos e bonecos, fragmentadas. A fotografia era vista como fetiche, daí figurar entre outras imagens de adoração que Farnese punha em seus oratórios profanos.
Outra característica que chama a atenção na mostra é a grande contemporaneidade das obras. "O resgate da obra de Farnese nesse momento tem a ver com essa linha da arte contemporânea que está elegendo a fotografia como linguagem", afirma.
Em dezembro de 99, o MAM dedicou o segundo número de sua revista à obra de Farnese de Andrade. No mesmo ano, o museu havia realizado uma pequena exposição, com oito obras pertencentes ao acervo, e um trabalho do artista pôde ser visto em uma mostra do Itaú Cultural sobre o legado duchampiano nas obras de artistas brasileiros.
Helouise ordenou a mostra do Espaço Porto Seguro em três núcleos: família, preocupação existencial e jogo de aparências. A mostra começa com a obra "The Human Being - O Ser", formada por um tabuleiro de xadrez e uma foto de uma criança excepcional.
Farnese referia-se a esse trabalho como sendo uma representação do filho que ele não teve, remetendo à idéia de vida como um jogo de resultado imprevisto. A obra está ladeada por "Mater" e "Pater", trabalhos que simbolizam a mãe e o pai do artista.
(JULIANA MONACHESI)

Exposição: Imagens Aprisionadas: A Foto/Objeto em Farnese de Andrade Onde: Espaço Porto Seguro de Fotografia (al. Barão de Piracicaba, 740, Campos Elíseos, tel. 3366-5037) Quando: seg. a sex, das 10h às 18h, sáb. e dom., das 9h às 14h. Até 5/2 Quanto: entrada franca


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