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Detanico e Lain fazem mapas das estrelas
Dupla constrói desenhos a partir de cartografia estelar em nova individual
Galeria em SP também recebe instalações de Ana Maria Tavares e desenhos e fotografias de plantas da artista Gabriela Albergaria
DA REPORTAGEM LOCAL
Estão na fachada da galeria o
Sol e a Lua. Lá no alto, são traços dispostos em círculo. Não
lembram a radiação solar, nem
a luz do satélite. Detanico e
Lain, dupla de artistas com
mostra na Vermelho, preferem
o silêncio à estridência.
Voltam à investigação das
constelações que marcou sua
última exposição no espaço.
Escreveram então os nomes
das estrelas com os tipos de
uma fonte que inventaram.
Eram círculos semitransparentes, sobrepostos. Tinham na
própria forma a coloração mais
forte e mais fraca dos astros.
Agora os artistas tratam da
expansão do universo. Pegam a
fonte Univers, de letras fragmentadas, e estouram os retalhos, branco sobre preto. Na parede de uma sala, está essa espécie de Big Bang tipográfico.
"É como se a gente tivesse explodido o nome da tipografia",
descreve Angela Detanico. "Está escrito como se fosse uma
enunciação literal do que ela é."
Mas por mais que tenha a
realidade crua como base, pouco parece literal na obra desses
artistas. Usam o mesmo sistema de classificação das estrelas
empregado por astrônomos,
mas enxergam outra beleza
nesse substrato científico.
Ligam os pontos entre as letras gregas que representam as
estrelas para soletrar no espaço
branco do papel palavras como
"simetria" e "hemisfério". São
desenhos abstratos que surgem
da disposição nada abstrata dos
astros no firmamento.
"Esse é um mapa real, uma
cartografia real", diz Detanico.
"O que a gente fez foi usar essa
designação para criar um céu
de letras e escrever palavras como se fossem constelações."
Estão dadas as coordenadas.
Da mesma forma que destrincham os pixels de uma imagem
ou desfazem e recombinam os
elementos sonoros de uma gravação, Detanico e Lain traduzem mapas já existentes, sejam
eles de cidades ou de estrelas.
Lembram a tradição minimalista, de Donald Judd ou Sol
Le Witt, com seus sistemas pré-determinados de linhas e pontos associados aos planos. Mas
não herdam a pretensão de livrar a arte de certa obrigação
formalista. Tentam explicitar a
harmonia dos sistemas, apontando novas ordens possíveis.
Outras paisagens
Também toma outro rumo a
obra de Gabriela Albergaria. No
anexo da Vermelho, ela revisita
os jardins de Versalhes em fotografias e desenhos, completando a impressão fotográfica
com traços a lápis. Exerce outro controle sobre a representação, da mesma forma que os
franceses domavam a natureza
em seus jardins calculados.
No andar de baixo, Ana Maria Tavares suspende o Rio e
outras paisagens em caixas de
vidro, que remetem à transparência da obra arquitetônica de
Lina Bo Bardi.
(SILAS MARTÍ)
DETANICO E LAIN
Quando: de ter. a sex., das 10h às
19h; sáb., das 11h às 17h; até 20/2
Onde: galeria Vermelho (r. Minas
Gerais, 350, tel. 3138-1520)
Quanto: entrada franca
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