São Paulo, quarta-feira, 20 de novembro de 2002

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ARTES PLÁSTICAS

Em 18 telas e em esboços realizados nos últimos dois anos, o pintor discute sua relação com os espaços

Paulo Pasta equilibra óleos e desenhos

Divulgação
Obra (sem título) de Paulo Pasta que está em exposição na galeria Nara Roesler a partir de hoje


ALEXANDRA MORAES
DA REDAÇÃO

"Talvez esse cinza seja mais uma perplexidade com o fato de ter 43 anos e estar pintando já há 20. E falo: e aí? O que é a vida? É que nem uma cebola, você vai descascando e chorando, e é uma caixa em que não tem nada dentro de nada. Não tem sentido. O que te move é a próxima caixinha, mas ela é vazia também. E aí passa o tempo, e você morre."
Talvez a definição de "vida" -a partir do acirramento do cinza em suas "Pinturas Recentes"- parecesse um pouco tétrica, não fosse enunciada por Paulo Pasta, que, entre suas pinceladas, indaga o "sentido das coisas" sem perder o humor. Inaugurando sua 20ª exposição individual hoje, na galeria Nara Roesler, Pasta retoma as colunas suaves que se expandem e se retraem em novas formas, acrescendo às 18 telas uma série de pequenos desenhos.
"Quando penso numa forma, eu não vou para a pintura, vou para o desenho. É muito mais um lugar analítico; a pintura é mais sensorial, tem um tempo diferente, tem que ir ganhando esse adensamento. O desenho tem mais a ver com provérbio, a pintura seria a construção de frases. Eu uso o desenho, mas a pintura me usa", explica Pasta.
Expostos pela terceira vez, a segunda em São Paulo, os desenhos de Paulo Pasta ganham maior autonomia do que suas pinturas. "Desenhar é ficar mais feliz. Minha pintura é adensada, mas no desenho fico mais à vontade para aceitar o descontrole", afirma.
Nas pinturas, as colunas se insinuam ora como lápis apontados, ora como vasos ou "elefantes", como o próprio Pasta repara, ao explicar sua relação mais forte com o "o que pintar" do que com o frequente "como pintar".
"Matisse tem uma frase bonita em que falava que ele estava sempre pintando alguma coisa. Isso já lhe dá uma saída ética, uma dimensão ética, porque você perde o atrito com as coisas. Senão você pode cair em um voluntarismo muito grande. Essa direção, esse "ter o que pintar" constitui uma obsessão para mim", diz o artista, que cria um sistema próprio de signos, de imagens planas, uma espécie de vocabulário de imagens. "Eu adoro quando entra uma forma nova. Preciso das coisas para pintar, mas justamente para não pintar as coisas."
Ele retoma a expressão do entremeio, dos volumes que ocupam os espaços negativos que nascem nos limites do chassi, entre seu sistema de imagens e aquele que o circunda.
"[As telas] iludem com uma forma meio negativa que vem mais de uma noção de não-espaço, de um espaço negativo, e lembra tempo, memória. Minha pintura tem muito a ver com memória. Para mim, o ato de lembrar é muito importante. Não sou um cara de imaginação. O que me move é a memória, a lembrança. Não quero resolver questões estéticas. Quero me expressar. É um jeito de eu estar vivo no mundo", afirma.


PAULO PASTA - onde: galeria Nara Roesler (av. Europa, 655, tel. 3063-2344). Quando: hoje, às 21h; de seg. a sex., das 11h às 20h; sáb., das 11h às 15h; até 31/ 12. Quanto: entrada franca.


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