EDSON FRANCO
EDITOR DE VEÍCULOS E CONSTRUÇÃO

Ganharam os amantes do jazz aberto a inovações, mas com perfil reconhecível. A cantora norte-americana Carla Cook substitui, hoje e amanhã no Bourbon Street, a "sensação" Norah Jones, originalmente escalada para encerrar a quinta edição da série Diners Club Jazz Nights.
Com essa troca, meio sem querer, a organização do evento acaba estimulando uma reflexão sobre os caminhos do canto jazzístico contemporâneo.
De um lado, Jones representa o descompromisso com as origens do estilo, chegando a soar desavergonhadamente country em "Come Away with me", disco lançado neste ano pelo mitológico selo de jazz Blue Note.
Do outro, Cook leu a mesma cartilha das divas do jazz e percorreu o roteiro igreja, bandas de escola, barzinhos esfumaçados. Resultado: ela reveste as notas com uma dose daquele instinto inadquirível em escolas de música.
E isso não é tudo. Além dos standards jazzísticos, ela se notabilizou por dar um lustro em números pop saídos do repertório de gente como Simon & Garfunkel, Marvin Gaye e Neil Young.
"Sou uma cantora de jazz, e tudo o que sair da minha boca será marcado por isso. Ao interpretar músicas de outros estilos, não estou procurando criar novos standards. Apenas não vejo razões para deixar de cantá-los", diz Cook, por telefone, de seu apartamento em Nova York, cidade que adotou após ter nascido em Detroit e passado os anos da faculdade de comunicação e oratória em Boston.
Berço da gravadora Motown -que viu florescer o talento de Stevie Wonder, Michael Jackson e Smokey Robinson-, a cidade natal da cantora alicerça suas incursões pelo pop. "Na época, nós não enxergávamos a importância da gravadora."
Lançado neste ano, o CD "Simply Natural" é a fonte maior do repertório dos shows. Ele tem a dura missão de suceder "It's All about Love" (nomeado para um Grammy em 99) e "Dem Bones" (2001), ambos muito bem recebidos pela crítica norte-americana.