São Paulo, terça-feira, 20 de novembro de 2007

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"Vão de Almas" mitifica Kalungas em mostra na Pinacoteca do Estado

Renan Cepeda apresenta série de 35 fotos feita em comunidade em Goiás

Renan Cepeda/Divulgação
"Leandro', fotografia realizada em 2007 por Renan Cepeda


EDER CHIODETTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Como parte das celebrações que marcam o Mês da Consciência Negra, a Pinacoteca do Estado inaugurou no último sábado a exposição "Vão de Almas", do fotógrafo carioca Renan Cepeda, 41, com imagens feitas na comunidade Kalunga de descendentes de escravos, na Chapada dos Veadeiros, no norte de Goiás.
Cepeda iniciou sua carreira como repórter-fotográfico no Rio, atuando por cerca de dez anos. Nos últimos anos, migrou para o mercado de arte com séries a partir de pesquisas de técnicas diferenciadas de fotografia como, por exemplo, o uso de infravermelho.
"Vão de Almas" contém 35 imagens em cores realizadas entre 2005 e 2007. O ensaio parte de proposta eminentemente documental de retratar pessoas, o modo de vida, os interiores e as casas dos remanescentes dos escravos.
Cepeda, porém, subverte a tradição dessa linhagem da fotografia, ao utilizar a técnica de "painting light", que consiste em fotografar na total escuridão iluminando partes da cena com o auxílio de uma lanterna revestida por filtros coloridos, que permite o lúdico exercício de, literalmente, desenhar com a luz, revelando e ocultando aquilo que interessa ao autor.
Este deslocamento entre uma pauta eminentemente documental e uma técnica mais comprometida com uma "pesquisa pictórica e de teoria da cor" -nas quais ambientes e personagens ganham uma aura mítica- resulta, nos melhores momentos do trabalho, em uma transposição do universo quilombola para uma espécie de fábula.
É o que ocorre, por exemplo, quando o efeito da técnica, em boa parte dos retratos, cria a ilusão de que a luz, mais do que iluminar as pessoas, parece emergir de dentro delas. Dessa forma os personagens ganham contorno épico, uma aura mítica, estabelecendo interessante contraponto com suas figuras belas e simples, principalmente quando Cepeda abre mão de filtros coloridos.
Em outros momentos, porém, a técnica de "pichar", como diz o fotógrafo, com luzes coloridas se sobrepõe a um conceito, que se mostra ainda não totalmente amadurecido, e o fotógrafo se deixa levar pela sedução fácil da forma e da cor, como em algumas fachadas de casas, o que tira a força do conjunto. No lugar da "pichação", um caminho mais profícuo seria o de manter a atmosfera de realismo fantástico que boa parte do trabalho sugere.


VÃO DE ALMAS - RENAN CEPEDA
Quando:
de ter. a dom., das 10h às 18h; até 30/1
Onde: Pinacoteca do Estado (pça. da Luz, 2, tel. 3324-1000)
Quanto: R$ 4; sáb., entrada franca


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