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CRÍTICA
Trilha de "Ripley" é repleta de "replays"
CASSIANO ELEK MACHADO
da Reportagem Local
Perdão aos
que têm horror
a trocadilhos,
mas não há nenhuma palavra
melhor para
abordar a trilha sonora de "Ripley" do que "replay".
É de repetições novas ou envelhecidas, bem costuradas ou esfarrapadas, que é feito o conjunto
de canções do filme de Anthony
Minghella, que chega às lojas de
CDs ao mesmo tempo que nas salas de cinema.
Por "replay", entenda-se, sobretudo, falta de originalidade. Não
há nada de realmente novo no CD
homônimo ao filme. O que vale,
inclusive, para os temas que foram compostos para a trilha e
que, por sua obviedade, soam como velhos conhecidos antes mesmo de chegarem aos ouvidos.
O frescor, paradoxalmente, exala das composições mais antigas
do CD, apresentadas em gravações dos anos 50 ou 60.
Ainda que repetida à exaustão,
uma gravação do pai do bebop
Charlie Parker tocando seu espevitado tema "Ko-Ko" nunca deixará de ser refrescante.
Igualmente viçosa é a faixa "The
Champ", em que outro sacerdote
do bebop, Dizzy "Bochechas" Gillespie, depois de um debochado
scat (improviso vocal), demonstra todo o furor que conseguia retirar de seu trompete.
O triunvirato de obras-primas
do CD (o que já torna sua aquisição um negócio bem pensável) é
completado com versão não tão
difundida da macia "Nature Boy",
com o trompete de Miles Davis
escoltado com elegância pelo vibrafonista Teddy Wilson.
Terminam aí as reprises. Começam os "remakes".
O primeiro é, de longe, o mais
saboroso. O ator Matt Damon,
que já trabalhou como produtor e
roteirista, lança-se à cantoria e
grava um "replay" bastante digno
da interpretação original de Chet
Baker para "My Funny Valentine".
Veja bem, digno. Mesmo que
com desafinadas esporádicas, da
frase "make me smile", no início,
até o apoteótico "stay", no final.
A mesma dignidade escapa dos
simulacros "Moanin'" e "Pent-up
House", canções de primeira linha do jazz que ganham releituras (ou melhor, cópias) no comando do opaco trompetista britânico Guy Barker.
Os "replays" de "Ripley" não
param nessas categorias. Pior do
que as reprises de gravações clássicas ou os "remakes" são as repetições internas.
A reprodução exaustiva de um
tema dentro de uma mesma composição é frequente no repertório
erudito. Na trilha pouco erudita
de "O Talentoso Ripley", porém,
o padrão musical que é apresentado na faixa "Italia", e que tem recorrências em outras seis, lembra
um cartão-postal. Um postal sem
nada escrito no verso, sem alma.
Em sua essência, as sete faixas
compostas pelo libanês Gabriel
Yared ("oscarizado" por "O Paciente Inglês", do mesmo Minghella) parecem existir apenas para regular o nível de tensão. É essa
a palavra sussurrada continuamente pelos violinos em "stacattos" de montanha-russa: tensão,
tensão, tensão. Palavras repetidas.
Avaliação:
Disco: O Talentoso Ripley
Gravadora: Sony
Quanto: R$ 20, em média
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