São Paulo, quarta-feira, 21 de junho de 2000


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SHOW
Ex-vocalista da banda de mangue beat Querosene Jacaré apresenta-se hoje gratuitamente, às 22h, no MAM
Ortinho prega a cultura regional do NE

Rodney Suguita/Folha Imagem
O cantor pernambucano Ortinho, que mostra "Argiloseforlogia"


DA REDAÇÃO

"Argiloseforlogia" ou "um manifesto do barro contra a globalização". Este é o título do novo trabalho do artista pernambucano Ortinho, 30, que pode ser visto apenas hoje, em apresentação gratuita, no auditório do MAM (parque Ibirapuera).
O ex-vocalista da banda de mangue beat Querosene Jacaré faz agora o caminho inverso de seus colegas de geração, abandonando a guitarra e os aparatos eletrônicos para apostar de novo em sonoridades regionais. Ortinho também abandonou as gravadoras e ainda não registrou seu novo trabalho em disco. "Vou abrir espaço de forma independente, quero primeiro amadurecer as músicas em shows", disse à Folha.
Ortinho inova no maracatu, misturando-o com o funk, e na embolada, ao fundi-la com a linguagem do rap. Reforça que seu interesse agora é integrar a luta de Ariano Suassuna pela defesa da cultura regional do Nordeste.
"Fico triste ao ver que os bonecos de Mestre Vitalino estão sendo substituídos por babyssauros e pokémons no universo das crianças nordestinas", diz.
O nome do novo trabalho, "Argiloseforlogia", inspira-se claramente em "Afrociberdelia" (96), disco de Chico Science. "A idéia é conscientizar as pessoas para o lado ruim da globalização, que é o fato de perdermos a identidade nacional. O mangue beat, de Chico Science, era parte do lado bom, que se preocupava em absorver algo positivo da modernidade."
Ortinho nasceu em Caruaru, terra natal também de Mestre Vitalino (1909-1963), que em sua cerâmica expressava sentimentos de sertanejos e retirantes do Nordeste. O artista popular é também uma referência para Ortinho, que parece querer traduzir sua mensagem para os anos 90.
Quando faz isso, porém, não é o sertão que vem à tona. A temática das letras de Ortinho concentra-se nos centros urbanos nordestinos, como na letra de "Os Cegos da Rua da Guia", que evoca imagens de ruas e esquinas do Recife ("Não adianta fechar os olhos/ Fingindo ir embora/Se a sua vista não vai passar da Rua da Aurora/ Tudo fica mais fácil de engolir quando a fome aflora/ Mendigando na ponte de ferro a sua esmola"). "Não abro mão da questão social. Posso estar em São Paulo, mas é a realidade das ruas do Recife que vai na minha cabeça."
A literatura de cordel é outra referência importante. "Cresci ouvindo e lendo esses poetas e artistas. Agora é hora de soltar essas influências", diz.
Musicalmente, o novo trabalho de Ortinho lembra muito o elogiado disco "Olho de Peixe" (93), de Lenine ao lado do percussionista Marcos Suzano. "A diferença é que é mais elétrico", diz.
No palco, Ortinho gosta de adotar uma postura de pregador. Levanta os braços e canta como quem faz importante anunciação, reminiscências do tempo de teatro amador da adolescência em Caruaru. "O ato de criar está sendo deteriorado, busco alternativa na música e na teatralidade da minha terra."
(SYLVIA COLOMBO)


Show: Argiloseforlogia Artista: Ortinho Quando: hoje, às 22h Onde: MAM (pq. Ibirapuera, portão 3) Quanto: entrada franca


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