São Paulo, Sábado, 21 de Agosto de 1999
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FESTIVAL
Bill Plympton, um dos reis do desenho mundial, chega hoje em SP para o evento internacional
"Deus da animação" mostra seus curtas

IVAN FINOTTI
da Reportagem Local

"Bill Plympton é deus", já disse Matt Groening, criador de "Os Simpsons". Pois esse deus da animação mundial deve ter aterrissado nesta madrugada em São Paulo. Isso se outro contratempo não tiver acontecido, como na noite de quarta, quando perdeu o avião.
"Não sabia que precisava de visto", explica Plympton, por telefone, de sua residência em Nova York. Apesar de não saber, não é a primeira vez que o animador vem ao Brasil. Já esteve duas vezes no país, ambas no Rio de Janeiro, para o festival Anima Mundi. "Gostei muito. É por isso que estou voltando", comenta.
Desta vez, ele chega para o 10º Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo. E deve acompanhar a sessão com 18 de seus filmes curtos hoje, às 18h, no MIS (reprises na quarta, às 11h, na Faap; e no próximo sábado, às 20h, no Museu Lasar Segall).
Plympton, dono de um humor virulento, é conhecido do público brasileiro pelos curtas exibidos na MTV e em alguns canais pagos, como o Locomotion (TVA).
O artista já foi indicado para o Oscar de curta de animação, há 12 anos. Estava no começo de sua carreira de cineasta, que completa agora 15 anos. Antes, fazia desenhos para revistas americanas.
Desde aquela época, já brincava com sexo e violência. "Acho isso muito engraçado", afirma.
Sua violência, contudo, não é muito sangrenta ou assustadora. Serve apenas ao humor. Os títulos dos filmes dão uma boa pista: "Um Empurrãozinho Vira um Empurrãozão", "25 Maneiras de Parar de Fumar", "Pêlos do Nariz" ou "Como Fazer Amor com uma Mulher".
Plympton só perde a pose quando informado de que não há praias em São Paulo. "Vocês têm um rio?", pergunta. Mas se conforma ao descobrir as atrações noturnas da cidade: "Isso é bom. Adoro clubes".

Folha - No Brasil, as pessoas que conhecem seu trabalho são jovens que assistem MTV e canais pagos. É o mesmo nos EUA?
Bill Plympton -
Sim. É o pessoal da MTV. Adolescentes e pessoas na casa dos vinte e poucos.

Folha - Por que o trabalho de um cara de 53 anos, como você, é preferido pelos jovens?
Plympton -
Eu gosto de fazer as pessoas rirem. E gosto de fazer animação sobre sexo e violência -acho isso muito engraçado. E é o que pessoas dessa idade gostam. Elas riem mais fácil.

Folha - Você foi indicado para o Oscar de curta de animação em 1987. Quando um diretor de longa-metragem é indicado, sua carreira costuma ter uma mudança. Acontece o mesmo com os curta-metragistas?
Plympton -
É, é uma grande mudança.

Folha - Para melhor?
Plympton -
Oh, sim (risos). É mais prestígio, status, convites para festivais. Sempre que encontro alguém, eu digo "fui indicado para o Oscar" e as pessoas dizem "oooh, você deve ser um cineasta muito bom".

Folha - Quer dizer que você diz isso para todo mundo?
Plympton -
Não, nem sempre (risos). Depende se eu estiver tentando vender algo, por exemplo, para um grande estúdio. Eles te respeitam. Você ganha respeito se tiver sido indicado para o Oscar.

Folha - Como você inventa seus filmes?
Plympton -
Geralmente, eu tenho um bloco de anotações que carrego comigo todo o tempo, em Nova York. Quando vejo algo engraçado ou interessante, faço um desenho ou escrevo uma nota. Depois de alguns dias, volto ao assunto e penso como ficaria num filme. Além disso, todas as manhãs eu fico deitado na cama por uma hora ou duas apenas pensando. Pensando nas idéias, refinando e brincando com elas até que algo interessante apareça.


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