São Paulo, domingo, 22 de junho de 2003 |
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"O teatro favorece tudo o que é visto como fragilidade"
DA REPORTAGEM LOCAL
ARTISTA E DESEQUILÍBRIOS - "O
problema é uma certa idealização
da loucura, uma perspectiva romântica que às vezes pode pesar.
Nos ensaios que acompanho na
cia., há um misto de irreverência
com um estado bruto das associações livres. Isso cria um certo caos
na criação. Não saberia dizer sob
o ponto de vista do criador, mas
há atores profissionais que vêm
para a Ueinzz e ficam espantados
com o estado de prontidão dos
atores, a entrega e disponibilidade
para o improviso. De algum modo, não estão nem aí para o que se
espera deles". DESCONSTRUÇÃO - "Bom, eu não
entendo nada de teoria teatral,
mas vou fazer aqui uma incursão
selvagem. É uma hipótese. Há um
viés contemporâneo da pesquisa
teatral que vai na linha de uma
desconstrução da narrativa, de
pôr em xeque a própria representação, de tentar trabalhar outros
tipos de presença e buscar um caráter mais fragmentário, sem
pensar em termos de fluxo. Os
atores da Ueinzz, por exemplo,
têm isso dado, uma certa desconstrução da linguagem e até da
gestualidade. A unidade de ação
vai para o brejo. Isso propicia
uma espécie de confluência em
que a loucura traz, fisicamente, o
que o teatro contemporâneo busca. É um encontro a ser pensado". LUGAR CÊNICO - "Com a experiência que acompanho na cia.,
não tenho dúvida de que o teatro
é um dispositivo que ao mesmo
tempo protege e favorece tudo
aquilo que comumente é visto
apenas como precariedade, déficit ou fragilidade e acaba ganhando certo esplendor pela ritualização. No teatro da Ueinzz, cada um
pode vir com sua bagagem, trejeitos, dissociações, e tudo isso será
válido e ganhará um lugar cênico,
será legitimado pela riqueza". ESPECTADOR - "Os psicanalistas
falam em "inconsciente à flor da
pele, a céu aberto". Não sei se é a
melhor expressão, mas há algum
estado cru, brusco, não mediado
pelos nossos amortecedores psíquicos. Já vi muita gente saindo
emocionada das apresentações
dizendo que sentiu que a vida estava do lado de lá do palco, e não
do lado de cá. Não sei se os nossos
clichês midiáticos, artísticos ou
subjetivos já estão tão esvaziados
que um tipo de vida em cena, com
uma certa crueza e quase crueldade, contribui para essa capacidade de afetação". |
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