São Paulo, segunda-feira, 22 de novembro de 2004

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LITERATURA

Encontros de Interrogação reúne no Itaú Cultural novos escritores, críticos e jornalistas em série de debates e oficinas

"Medalhinhas" discutem criação literária

JANAINA FIDALGO
DA REDAÇÃO

Poetas e prosadores expoentes da nova literatura brasileira tomam conta hoje e amanhã de todas as dependências do Itaú Cultural para participar do Encontros de Interrogação, um colóquio de escritores, críticos e jornalistas voltado à discussão literária.
Nesta babel, gerações, naturalidades, histórias e trajetos distintos convergem para uma paixão em comum. Assim, em uma única mesa se encontram, por exemplo, o jovem romancista paulistano Santiago Nazarian, a autora carioca ainda inédita Cecília Giannetti, a porto-alegrense Verônica Stigger, e o poeta de Bom Jesus da Lapa João Filho. Mediados por Marçal Aquino, o veterano do grupo, eles discutem a importância da obra de Clarice Lispector e Guimarães Rosa.
A revelação de jovens escritores por meio da internet e a literatura feita em blogs tem destaque no evento. "Blog pode ser literatura?", com mediação do crítico da Folha Xico Sá, e "A nova literatura vem da internet?" são os temas de duas das 14 mesas.
"Tem um certo número de escritores interessantes que estão aparecendo em blogs -hoje uma referência importante- que nunca se reuniu. Nunca houve um encontro com esse perfil no Brasil", diz o consultor do Itaú Cultural, Claudiney Ferreira, 47.
O repórter da Folha Cassiano Elek Machado será um dos debatedores de uma mesa cuja pergunta é "Literatura vende jornal? Jornal vende literatura?". No debate mediado por João Alexandre Barbosa, do qual participa o colunista da Folha Manuel da Costa Pinto, o mote é a "rixa" entre as críticas jornalística e acadêmica.
Haverá ainda oficinas de prosa e poesia com Frederico Barbosa, Raimundo Carrero, Assis Brasil e João Silvério Trevisan -todas com inscrições fechadas.
Como o nome já indica, em Encontros de Interrogação não há temas nem debates fechados.
"A questão da qualidade é a discussão. Não estou dizendo que esses são os melhores escritores emergentes do Brasil ou que a nova literatura brasileira é magnífica. São temas em discussão", diz.
A escolha dos mais de 90 participantes foi uma incumbência dada a quatro curadores: os escritores Cláudio Daniel, Frederico Barbosa, Marcelino Freire e Nelson de Oliveira -os dois primeiros selecionaram os poetas e os outros dois, os prosadores.
"São tantos escritores que a gente fica sempre devendo. Não queríamos chamar os medalhões, não que tivéssemos algo contra eles, mas eles já são muito chamados. Queríamos chamar os "medalhinhas'", diz Freire, entre risos.
Em tom quase místico, o escritor lembra que hoje à noite uma carta aberta sobre o Plano Nacional de Leitura, assinada por um grupo de escritores, será entregue ao ministro Gilberto Gil.
"Coincidentemente, quando começar essa invasão no Itaú, o Gil e o Galeano Amorim [coordenador do Plano Nacional do Livro e Leitura] estarão conversando com escritores, editores e livreiros. É concordância da natureza."

Discussão continuada
Para dar prosseguimento às discussões do encontro, um DVD será lançado em 2005. Junto dele, será distribuído um catálogo -uma espécie de vitrine dessa geração. A intenção é distribuí-los a jornalistas, universidades, escritores e aos interessados em literatura brasileira no exterior.
"Todos os autores estão escrevendo um texto sobre sua própria literatura. O catálogo vai ter ainda uma matéria do Ronaldo Bressane sobre a história da literatura na internet no Brasil e um texto dos curadores", diz Ferreira.
A intenção futuramente, segundo Ferreira, é disponibilizar a publicação para o público, o que só acontecerá caso seja fechada uma parceria com alguma editora.
"Ninguém lida com essa turma porque ninguém quer se arriscar. E literatura é risco", diz Ferreira.


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