São Paulo, sábado, 23 de abril de 2011

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CRÍTICA DOCUMENTÁRIO

"Olhar estrangeiro" retrata Nana Caymmi

O francês Georges Gachot, que também filmou "Música É Perfume" sobre Maria Bethânia, dirige "Rio Sonata"


CENAS RESULTAM PARA GRINGO VER, "EXÓTICAS" DEMAIS-O QUE NANA NÃO É


MARCUS PRETO
DE SÃO PAULO

De todos os 84 minutos de "Rio Sonata", sobram, na memória do espectador, meia hora de filme. Se tanto.
São os momentos em que as presenças do diretor, do editor e do roteirista são absolutamente desnecessárias. Bastaria ligar a câmera e deixar a protagonista, Nana Caymmi, sozinha. Cantando.
Nana continua, quase 50 anos depois de sua estreia em disco, uma das maiores cantoras do mundo.
É uma pena que o documentário, dirigido pelo francês Georges Gachot -que se debruçou sobre Maria Bethânia em "Música É Perfume", de 2005- se perca querendo retratar alguma coisa além da personagem.
Ele recheia o filme com um Rio de Janeiro nublado. Parece querer traçar um paralelo entre esse lado obscuro e "pouco divulgado" da cidade e a voz dramática da cantora.
Mas as cenas resultam para gringo ver, "exóticas" demais -o que Nana não é. Grande parte das filmagens aconteceu em estúdio, durante as gravações do álbum "Sem Poupar Coração", lançado em 2009. O que acontece ali -na presença dos irmãos Dori e Danilo Caymmi e dos músicos- é o que interessa. Chegamos, enfim, mais perto de Nana.
Trabalhando, ela baixa a guarda. Escapam medos, contradições, inseguranças.
Ela duvida de sua capacidade de cantar algumas músicas, se emociona, xinga. Costura a intensidade das interpretações com demonstrações de sua personalidade, que não mede palavras.
Isso também transborda nas cenas da cantora jogando cartas com amigos e nos flagras nos camarins (inclusive com Maria Bethânia e Miúcha, no show "Brasileirinho", da primeira). Tudo o que fugiu do controle das mãos do diretor interessa.
Os depoimentos colhidos por ele, no entanto, não acrescentam coisa alguma.
Passamos pelas falas de Erasmo Carlos, Milton Nascimento, Mart'nália e Bethânia sem nenhuma revelação.
Nem Gilberto Gil, que foi casado com ela nos anos 1960 e muito teria a dizer, vai além dos momentos já conhecidos no Festival da Record de 1967, quando apresentaram a canção "Bom Dia", parceria dos dois.
A cena dos dois no festival é uma das boas imagens de arquivo incluídas no filme.
Há outras importantes e bonitas, como duetos da cantora com Tom Jobim e com o pai Dorival Caymmi.
Seria fácil desculpar o diretor dizendo que, se seu olhar estrangeiro não tivesse tentado esse retrato da artista, ninguém daqui o faria. Mas será que é mesmo o caso de ser condescendente assim diante de Nana Caymmi?

RIO SONATA

DIREÇÃO Georges Gachot
PRODUÇÃO Suíça/Brasil
ONDE nos cines Lumière Playarte e Reserva Cultural
CLASSIFICAÇÃO Não recomendado para menores de 10 anos
AVALIAÇÃO regular


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