São Paulo, quinta, 23 de julho de 1998

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FESTIVAL INTERNACIONAL DE ARTES CÊNICAS
Tibetanos mostram seus rituais budistas para acabar com sentimentos negativos e minimizar o ego
Monges dançam para "liberar venenos'

Lenise Pinheiro/Folha Imagem
Fotomontagem com os monges tibetanos do mosteiro de Shetchen


ANA FRANCISCA PONZIO
especial para a Folha

As apresentações que os monges tibetanos do mosteiro de Shetchen realizam a partir de hoje, no teatro Sesc Vila Mariana, não são definidas como espetáculos convencionais, mas como um encontro em que dançarinos e público compartilham um momento de espiritualidade.
Atração do 7º Festival Internacional de Artes Cênicas (FIAC), cujo tema neste ano é "A Presença do Sagrado nas Artes", os monges do mosteiro de Shetchen revivem uma tradição milenar, originada no budismo.
Utilizando máscaras e roupas cobertas por ornamentos dourados, o grupo de 12 monges dança ao som de música ao vivo, executada por três instrumentistas, que tocam címbalos, tambores, trompas e gongo.
No Tibete, essas danças sagradas originaram-se nas visões que surgiam durante os períodos de meditação de mestres espirituais. Da maneira mais fiel possível, foram transmitidas de geração em geração.
Com o tempo, outros mestres visionários enriqueceram esse repertório de danças de inspiração puramente mística. "Não há invenção artística nessas danças", diz Mathieu Ricard, monge budista que acompanha o grupo.
Parisiense de 52 anos, Ricard é filho do filósofo ateu Jean-François Rével, com quem escreveu o livro "O Monge e o Filósofo", lançado no Brasil pela editora Siciliano.
Doutor em biologia molecular, Ricard mudou-se para a Ásia aos 26 anos, para seguir os ensinamentos de mestres budistas do Tibete. Em 1978, ele foi ordenado monge e já traduziu seis livros tibetanos para o francês.
"As danças dos monges tibetanos também integram um ritual que costuma ocorrer, ininterruptamente, durante oito dias e oito noites. Ao fim dessa celebração, os monges dançam na parte externa do monastério, para compartilhar sua experiência espiritual com a população laica."
Segundo o monge Ricard, acredita-se que essas danças provocam a liberação das cinco emoções negativas, chamadas no budismo de venenos mentais. "Dançando, converte-se em sabedoria os sentimentos de ódio, inveja, desejo, ignorância e orgulho."
Para os budistas, cada ser possui em si a natureza de Buda, ou seja, a natureza da perfeição. "Por meio de diferentes tipos de movimentos, procuramos visualizar esse potencial contido em nós."
Por vezes acrobáticas, mas nunca improvisadas, as danças dos monges tibetanos são impregnadas de símbolos. Em "Shawa", uma das sete peças do programa que será apresentado em São Paulo, um dançarino usando uma máscara de cervo destrói uma efígie com um sabre.
"Não se trata de um ato de magia ou violência", explica Ricard. "A efígie representa nosso apego ao ego; o sabre simboliza o conhecimento. O significado dessa dança é dissolver o apego a nós mesmos, o egoísmo, para nos deixar conduzir ao amor e à compaixão. Para os monges tibetanos, a dança é uma prática espiritual, capaz de promover transformações e de trazer grande felicidade."

Espetáculo: Danças Sagradas do Tibete
Com: monges do mosteiro de Shetchen
Quando: de hoje a sábado, às 21h; domingo, às 20h; segunda, dia 27, às 21h
Onde: teatro Sesc Vila Mariana (r. Pelotas, 141, Vila Mariana, tel. 5080-3147)
Quanto: R$ 20 e R$ 10 (comerciários, estudantes e pessoas com mais de 60 anos)
Patrocinadores: Grupo Accor, Eletrobrás, Petrobrás e Volkswagen




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