São Paulo, Sábado, 23 de Outubro de 1999
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MOSTRA DE CINEMA
Benjamin Reding fala à Folha sobre "Oi! Warning", que é exibido hoje no Espaço Unibanco
Skinhead gay é provocação de diretor

Marcos Finotti/Folha Imagem
O cineasta alemão Benjamin Reding, que veio a São Paulo a convite da Mostra para divulgar seu filme mais recente, "Oi Warning"


BRUNO GARCEZ
da Redação

Os gêmeos Benjamin e Dominik Reding chegaram felizes ao cinema de Leipzig (Alemanha) que exibiria seu filme "Oi! Warning". A sala estava cheia, mas a reação do público à película da dupla, contundente e irônica radiografia do universo racista dos skinheads alemães, deixou-os assustados. "Quem fez esse filme? Vamos matar os diretores!", vociferavam os skinheads que lotavam o local.
O cineasta alemão Benjamin Reding, em visita ao Brasil a convite da Mostra -que faz hoje a última exibição de "Oi! Warning"-, contou à Folha como conseguiu se safar dessa e de outras intempéries. Entre elas, sua prisão na época em que era punk e o "não" que disse ao convite que teria recebido de produtores hollywoodianos para rodar a sequência de "A Bruxa de Blair".

Folha - No filme, vocês demonstram grande familiaridade com as cenas punk e skinhead. Vocês foram punks?
Benjamin Reding -
Na época, anos 80, eu diria que não, porque não gostava de ser rotulado. Mas agora creio que éramos. Eu ia aos Chaosdays, megafestivais punk que aconteciam em Hannover. É um lugar horrível, um desastre de concreto, só arranha-céus e nada mais. Um pouco como São Paulo. Mas os festivais eram ótimos. Fui até preso em um deles, só porque tinha cabelo moicano. Policiais me entregaram um papel dizendo que estavam me detendo porque poderia causar estragos à cidade.

Folha - Ainda há muitos skinheads racistas na Alemanha?
Reding -
Sim, principalmente no leste do país. São jovens sem perspectivas, que querem se afirmar contra a família, contra o Estado, contra qualquer coisa.

Folha - A recente vitória da extrema direita nas eleições austríacas é prova de que os germânicos não ouviram o aviso ("warning") dado no seu filme?
Reding -
Definitivamente não. Como cineasta, não tenho uma auto-estima tão elevada a ponto de achar que posso modificar a maneira de uma pessoa pensar. Só quero levantar algumas questões e promover diálogo.

Folha - Mostrar um personagem que é skinhead e gay é uma provocação deliberada?
Reding -
Foi muito importante trazer isso para o filme. Homossexualismo é uma palavra proibida para skinheads. Quando exibimos o filme em Leipzig, cidade que tem muitos skins, eles aplaudiram as cenas de violência e riram quando o skinhead beija um punk. Era uma forma de disfarçar o incômodo. Ao final, pediram o dinheiro de volta e disseram que iam nos matar. Conversamos por horas e eles acabaram mudando de idéia.

Folha - Vocês já pensam na sua próxima produção?
Reding -
Recebemos uma proposta de produtores de Hollywood para fazer a sequência de "A Bruxa de Blair", mas não aceitamos. Não gostei desse filme.


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