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MOSTRA DE CINEMA
Benjamin Reding fala à Folha sobre "Oi! Warning", que é exibido hoje no Espaço Unibanco
Skinhead gay é provocação de diretor
Marcos Finotti/Folha Imagem
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O cineasta alemão Benjamin Reding, que veio a São Paulo a convite da Mostra para divulgar seu filme mais recente, "Oi Warning" |
BRUNO GARCEZ
da Redação
Os gêmeos Benjamin e Dominik Reding chegaram felizes ao cinema de Leipzig (Alemanha) que
exibiria seu filme "Oi! Warning".
A sala estava cheia, mas a reação
do público à película da dupla,
contundente e irônica radiografia
do universo racista dos skinheads
alemães, deixou-os assustados.
"Quem fez esse filme? Vamos matar os diretores!", vociferavam os
skinheads que lotavam o local.
O cineasta alemão Benjamin
Reding, em visita ao Brasil a convite da Mostra -que faz hoje a última exibição de "Oi! Warning"-, contou à Folha como
conseguiu se safar dessa e de outras intempéries. Entre elas, sua
prisão na época em que era punk
e o "não" que disse ao convite que
teria recebido de produtores
hollywoodianos para rodar a sequência de "A Bruxa de Blair".
Folha - No filme, vocês demonstram grande familiaridade
com as cenas punk e skinhead.
Vocês foram punks?
Benjamin Reding - Na época,
anos 80, eu diria que não, porque
não gostava de ser rotulado. Mas
agora creio que éramos. Eu ia aos
Chaosdays, megafestivais punk
que aconteciam em Hannover. É
um lugar horrível, um desastre de
concreto, só arranha-céus e nada
mais. Um pouco como São Paulo.
Mas os festivais eram ótimos. Fui
até preso em um deles, só porque
tinha cabelo moicano. Policiais
me entregaram um papel dizendo
que estavam me detendo porque
poderia causar estragos à cidade.
Folha - Ainda há muitos skinheads racistas na Alemanha?
Reding - Sim, principalmente
no leste do país. São jovens sem
perspectivas, que querem se afirmar contra a família, contra o Estado, contra qualquer coisa.
Folha - A recente vitória da extrema direita nas eleições austríacas é prova de que os germânicos não ouviram o aviso
("warning") dado no seu filme?
Reding - Definitivamente não.
Como cineasta, não tenho uma
auto-estima tão elevada a ponto
de achar que posso modificar a
maneira de uma pessoa pensar.
Só quero levantar algumas questões e promover diálogo.
Folha - Mostrar um personagem que é skinhead e gay é
uma provocação deliberada?
Reding - Foi muito importante
trazer isso para o filme. Homossexualismo é uma palavra proibida
para skinheads. Quando exibimos o filme em Leipzig, cidade
que tem muitos skins, eles aplaudiram as cenas de violência e riram quando o skinhead beija um
punk. Era uma forma de disfarçar
o incômodo. Ao final, pediram o
dinheiro de volta e disseram que
iam nos matar. Conversamos por
horas e eles acabaram mudando
de idéia.
Folha - Vocês já pensam na
sua próxima produção?
Reding - Recebemos uma proposta de produtores de Hollywood para fazer a sequência de
"A Bruxa de Blair", mas não aceitamos. Não gostei desse filme.
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