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MÚSICA ERUDITA
Ópera de Richard Strauss tem direção de Ana Carolina com Orquestra Sinfônica sob regência de Ira Levin
Salomé toma Municipal depois de 80 anos
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
Ela é jovem, desejável, mimada
e assumidamente pérfida. Tenta
seduzir o padrasto para que ele
mate o homem de quem quis ser
fêmea, mas que a rejeitou. Ela é
Salomé, personagem bíblico trabalhado com sutileza em peça de
Oscar Wilde (1854-1900) e transformado em ópera pelo compositor Richard Strauss (1864-1949).
A ópera "Salomé" estréia amanhã no Teatro Municipal de São
Paulo, em temporada de apenas
cinco récitas, com a Orquestra
Sinfônica Municipal sob a regência de Ira Levin e a direção cênica
da também cineasta Ana Carolina
("Das Tripas Coração").
"Salomé" foi apresentada pela
primeira vez na Alemanha, em
1905, provocando grande rebuliço estético e moral. Strauss descobrira como tratar musicalmente a
sensualidade, mas do ângulo da
perversão. A música é vulcânica.
Os momentos de estridência descrevem o encontro entre a tragédia -Herodíade matou o marido
para se casar com Herodes- e a
dimensão quase animalesca de
dois dos desejos em cena: Herodes quer o corpo de Salomé, que
tem como obsessão fazer sexo
com o asceta João Batista.
A enteada aceita dançar e se
despir para o padrasto, desde que
ele a satisfaça numa única vontade. Pede a cabeça do profeta. Herodes a traz numa bandeja de prata, decepada e ainda quente. É
aquela boca de santo morto que
Salomé irá finalmente beijar.
"Salomé" foi montada duas vezes em São Paulo, diz o estudioso
Sérgio Casoy, a primeira em 1920
e a segunda em 1923. As duas
apresentações ocorreram no Teatro Municipal, que deixaria de incluí-la em sua programação nos
80 anos seguintes.
Salomé será cantada pela soprano inglesa Morenike Fadayomi,
uma voz ascendente nas cenas européias. Herodes, pelo tenor alemão Wolfgang Schmidt, de carreira wagneriana, e Herodíade,
mãe de Salomé, pela meio-soprano Céline Imbert. O barítono norte-americano Donnie Ray Albert
fará João Batista.
SALOMÉ. De: Richard Strauss. Com:
Orquestra Sinfônica Municipal, sob
regência de Ira Levin e direção cênica de
Ana Carolina. Quando: amanhã, dias 28 e
30, às 20h30, e dias 26 e 1º de novembro,
às 17h; onde: Teatro Municipal (pça.
Ramos de Azevedo, tel. 222-8698).
Quanto: de R$ 15 a R$ 100.
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