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Para Levin, ópera foge do "provinciano"
DA REPORTAGEM LOCAL
Ira Levin, diretor artístico do
Teatro Municipal e regente da
atual produção de "Salomé", diz
ter escolhido a ópera de Strauss
para ampliar o repertório lírico
paulistano. Leia a seguir trechos
de entrevista à Folha.
(JBN)
Folha - Por que "Salomé"?
Ira Levin - Ela é uma de minhas
óperas prediletas entre as composições de Richard Strauss; é uma
peça importantíssima que há três
gerações os paulistanos não tinham oportunidade de ouvir. É
preciso inserir São Paulo e o Teatro Municipal no repertório internacional consagrado. Seria uma
pena preservarmos na cidade um
perfil provinciano.
Folha - "Salomé" foi um salto importante na ópera alemã?
Levin - Ela foi o marco fundamental de uma passagem a novas
linguagens. Foi o mais escandaloso produto de seu período; chegou a ser banida de certos teatros.
Folha - A música em si também
não seria chocante?
Levin - Muitos dos músicos da
nossa orquestra não conheciam
essa ópera e ficaram chocados e
surpresos, com os ouvidos semelhantes ao dos alemães de cem
anos atrás. Foi uma das óperas
mais decadentes de seu tempo.
Folha - Por que "decadente"?
Levin -O padrasto quer transar
com a enteada, esta dança e se
desnuda para ele, mas em seguida
beija a boca de um defunto. É algo
bastante decadente.
Folha - Parece haver de um lado
João Batista e do outro os demais.
Por quê?
Levin - Richard Strauss não
construiu João Batista dessa forma. Ele o herdou de Oscar Wilde.
Musicalmente Strauss reserva a
João Batista algo mais nobre,
construindo um contraste gritante com os demais personagens.
Folha - Como está sua orquestra
nessa produção?
Levin - Ela se vê desafiada. "Salomé" é bastante difícil de ser interpretada. Creio que há na leitura
que eles fazem um certo frescor,
difícil de ser encontrado em orquestras européias.
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