São Paulo, sábado, 23 de outubro de 2004

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ARTES PLÁSTICAS

Exposição apresenta a fase em que o artista revela temática mais autêntica sobre o Nordeste e o Brasil

Mostra traz o Cícero Dias dos anos 20 e 30

ALEXANDRA MORAES
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma época especialmente valiosa da produção do pernambucano Cícero Dias (1907-2003) é contemplada em exposição que começa hoje na Faap. São obras dos anos 20 e 30, período que Cícero Dias passou no Rio -foi para Paris em 1937, onde morreu.
"São obras de um período em que ele mostra de maneira mais autêntica questões brasileiras e questões do Nordeste", diz Maria Izabel Branco Ribeiro, diretora do Museu de Arte Brasileira da Faap, que realiza a mostra em conjunto com o Comitê Cícero Dias (do qual fazem parte a viúva, Raymonde, e a filha do pintor, Sylvia Dias Dautresme, e Jean Boghici e Waldir Simões de Assis Filho).
A exposição é dividida em núcleos temáticos, como a terra, os pares, sonho e imagens oníricas, a morte, mas de alguma maneira a fluidez dos temas faz com que exista sempre pequenas interseções entre esses grupos. Numa sala, sozinha, fica "Eu Vi o Mundo... E Ele Começava no Recife" (31), obra das mais emblemáticas.
Na parte dedicada a mostrar a terra, senhores de engenho estão enterrados até o peito em suas terras, existe uma "Condenação dos Usineiros" e também está disposto ali um primeiro exemplar de "Casa-Grande e Senzala", obra pontual de Gilberto Freyre na investigação do Nordeste senhorial, ilustrado por Cícero Dias.
"Ele tinha muita sintonia com os modernistas, mas mostra um Brasil que ninguém queria muito ver. Para os modernistas, era importante representar um país que estava justamente se modernizando, com trens, "klaxon", máquinas, e ele aparece com carro de boi, enxada", diz Ribeiro.
Nas representações oníricas, as imagens surrealistas se confundem com a própria cultura popular nordestina, dando origem a seu articular "surrealismo nordestino". "É menos de manifesto e mais de folclore", diz Ribeiro.
Waldir Silmões, do Comitê Cícero Dias, lembra que "há Cíceros Dias para todos os gostos. Manuel Bandeira, como tantos até hoje, gostava especialmente dos trabalhos da década de 20. Mário de Andrade vibrou foi com o sabor de brasilidade de seus canaviais".
A relação da obra de Cícero Dias com outros artistas também está presente na exposição. Poemas de Manuel Bandeira e João Cabral de Melo Neto, um retrato de Tarsila do Amaral, uma pintura de "Macunaíma" e também uma carta de Dias a Mário, contando sobre algumas das tristezas do Rio: "Uma prostituta no mangue pedindo em nome de Deus que eu fosse falar com ela, um velho morto ao lado de bichos e enterro sem acompanhamento".
A mostra deve seguir para o Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba. No ano do Brasil na França, 2005, vai para a Maison de l'Amérique Latine, em Paris.


CÍCERO DIAS - DÉCADAS DE 20 E 30. Onde: Museu de Arte Brasileira da Faap (r. Alagoas, 903, tel. 3662-7198). Quando: hoje, às 17h (convidados); de ter. a sex., das 10h às 21h; sáb. e dom., das 13h às 18h. Quanto: grátis.


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