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ARTES PLÁSTICAS
Exposição apresenta a fase em que o artista revela temática mais autêntica sobre o Nordeste e o Brasil
Mostra traz o Cícero Dias dos anos 20 e 30
ALEXANDRA MORAES
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma época especialmente valiosa da produção do pernambucano Cícero Dias (1907-2003) é
contemplada em exposição que
começa hoje na Faap. São obras
dos anos 20 e 30, período que Cícero Dias passou no Rio -foi para Paris em 1937, onde morreu.
"São obras de um período em
que ele mostra de maneira mais
autêntica questões brasileiras e
questões do Nordeste", diz Maria
Izabel Branco Ribeiro, diretora do
Museu de Arte Brasileira da Faap,
que realiza a mostra em conjunto
com o Comitê Cícero Dias (do
qual fazem parte a viúva, Raymonde, e a filha do pintor, Sylvia
Dias Dautresme, e Jean Boghici e
Waldir Simões de Assis Filho).
A exposição é dividida em núcleos temáticos, como a terra, os
pares, sonho e imagens oníricas, a
morte, mas de alguma maneira a
fluidez dos temas faz com que
exista sempre pequenas interseções entre esses grupos. Numa sala, sozinha, fica "Eu Vi o Mundo...
E Ele Começava no Recife" (31),
obra das mais emblemáticas.
Na parte dedicada a mostrar a
terra, senhores de engenho estão
enterrados até o peito em suas terras, existe uma "Condenação dos
Usineiros" e também está disposto ali um primeiro exemplar de
"Casa-Grande e Senzala", obra
pontual de Gilberto Freyre na investigação do Nordeste senhorial,
ilustrado por Cícero Dias.
"Ele tinha muita sintonia com
os modernistas, mas mostra um
Brasil que ninguém queria muito
ver. Para os modernistas, era importante representar um país que
estava justamente se modernizando, com trens, "klaxon", máquinas, e ele aparece com carro de
boi, enxada", diz Ribeiro.
Nas representações oníricas, as
imagens surrealistas se confundem com a própria cultura popular nordestina, dando origem a
seu articular "surrealismo nordestino". "É menos de manifesto
e mais de folclore", diz Ribeiro.
Waldir Silmões, do Comitê Cícero Dias, lembra que "há Cíceros
Dias para todos os gostos. Manuel
Bandeira, como tantos até hoje,
gostava especialmente dos trabalhos da década de 20. Mário de
Andrade vibrou foi com o sabor
de brasilidade de seus canaviais".
A relação da obra de Cícero Dias
com outros artistas também está
presente na exposição. Poemas de
Manuel Bandeira e João Cabral de
Melo Neto, um retrato de Tarsila
do Amaral, uma pintura de "Macunaíma" e também uma carta de
Dias a Mário, contando sobre algumas das tristezas do Rio: "Uma
prostituta no mangue pedindo
em nome de Deus que eu fosse falar com ela, um velho morto ao lado de bichos e enterro sem acompanhamento".
A mostra deve seguir para o
Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba. No ano do Brasil na França,
2005, vai para a Maison de l'Amérique Latine, em Paris.
CÍCERO DIAS - DÉCADAS DE 20 E 30.
Onde: Museu de Arte Brasileira da Faap
(r. Alagoas, 903, tel. 3662-7198).
Quando: hoje, às 17h (convidados); de
ter. a sex., das 10h às 21h; sáb. e dom.,
das 13h às 18h. Quanto: grátis.
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