São Paulo, sábado, 23 de outubro de 2004

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Cineastas adotam imagem estática

Amos Gitai/Divulgação
Imagem extraída de "Devarim" (1995), do israelense Amos Gitai


EDER CHIODETTO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Dois cineastas, dois fotógrafos. Um deles busca fotografias fora da tela do cinema; o outro as encontra em meio às imagens de seus filmes. O iraniano Abbas Kiarostami e o israelense Amos Gitai, ambos homenageados na Mostra, fazem exposição conjunta de fotografias na Faap e lançam livros com essa produção que escapou da grande tela.
Em "As Estradas de Kiarostami", o diretor de "Gosto de Cereja" (1997) fotografa em preto-e-branco paisagens do norte do Irã muitas vezes recobertas de neve, ricas em grafismos e geralmente sem a presença do homem ou com a figura humana dissolvida na amplidão do espaço.
Em "Amos Gitai Percursos", o diretor de "Alila" (2003) retrabalha fotogramas coloridos dos seus filmes ampliando algumas partes e eliminando outras para dar uma nova possibilidade de leitura, agora estanque, às imagens antes dotadas de movimento. O homem se faz presente o tempo todo. As fotos de Kiarostami são pequenas e de grande qualidade. As de Gitai são gigantes e a má definição está incorporada ao trabalho.
Tantas diferenças formais, no entanto, acabam conduzindo ambos para o mesmo caminho: ao mirar a paisagem iraniana ou fazer imagens de imagens de filmes, os cineastas transmutados em fotógrafos falam da beleza que repousa nas coisas mais simples da vida e da perpetuação da natureza humana sobre a ação do tempo.
Mas para que fotografar se ambos já falam disso em seus filmes? Kiarostami explica no texto "Duas ou Três Coisas que Sei de Mim", no livro que leva seu nome e que a editora Cosac & Naify está lançando em parceria com a Mostra Internacional de Cinema de SP: "No cinema, infelizmente, é preciso contar uma história, ao passo que na fotografia somos mais livres... a fotografia não conta uma história e deixa-nos a liberdade de imaginá-la. Por isso às vezes penso que a fotografia é uma arte mais completa; que uma imagem estática vale muito mais que um filme... ela está em perene transformação... tem uma vida mais longa que o filme".
O que move ambos cineastas em direção ao estático da fotografia parece ser uma certa insatisfação com a completude narrativa do cinema. Para os dois a fotografia se torna a liberdade de falar do mundo sem narrá-lo. "Estou tentando entender o quanto se pode fazer ver sem mostrar", afirma Kiarostami.

AMOS GITAI PERCURSOS/AS ESTRADAS DE KIAROSTAMI. Quando: de domingo a 14/11, de seg. a sex.: 10h às 21h; sáb., dom. e feriados: 13h às 18h. Onde: Faap (r. Alagoas, 903, tel. 3662-7198). Quanto: entrada franca. Livros: "Abbas Kiarostami" (Mostra Internacional de Cinema de SP/Cosac & Naify, 328 págs., R$ 49); "Amos Gitai" (Mostra Internacional de Cinema de SP/ Cosac & Naify, 256 págs., R$ 56).


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