São Paulo, Quinta-feira, 23 de Dezembro de 1999


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TEATRO
Ameaçado de despejo, União e Olho Vivo leva hoje "O IPTU Que Apita" ao Palácio das Indústrias
Prefeitura é palco de performance

Divulgação
Cena de "Us Juãos I os Magali", uma peças do repertório atual do grupo União e Olho Vivo


VALMIR SANTOS
free-lance para a Folha


Quando montou "Barbosinha Futebó Crube", no início da década, o diretor Cesar Vieira não imaginava que, um dia, o grupo Teatro União e Olho Vivo (Tuov) retornaria ao universo do compositor Adoniran Barbosa -mas desta vez para entoar "Saudosa Maloca" em defesa da sua sede, no bairro do Bom Retiro.
A música faz parte da performance "O IPTU Que Apita", a ser apresentada hoje, às 16h, no Palácio das Indústrias, sede da Prefeitura de São Paulo. Foi a forma que o grupo encontrou para expressar, artisticamente, sua inconformidade com a iminência de sofrer uma ação de despejo.
No final de outubro, a prefeitura revogou a concessão de uso do terreno, localizado na rua Newton Prado, 766, alegando o não-pagamento do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano). O prefeito Celso Pitta (PTN) prorrogou a decisão por 90 dias e pediu à Secretaria de Negócios Jurídicos que estudasse o caso.
"Como já se passaram mais de 40 dias e até agora a prefeitura não se manifestou, preparamos uma performance para marcar a entrega da nossa petição", explica Vieira, 57. O documento reúne vários processos que garantem, segundo o diretor e também advogado, a inconstitucionalidade de uma ação de despejo contra o Tuov, que desenvolve atividades no mesmo endereço há 18 anos, quase a metade dos seus 33 anos de fundação.
"Somos 20 pessoas, a maioria operários, que participam de espetáculos sem fins lucrativos, sempre voltados para a comunidade", explica o diretor.
O Tuov utiliza a "tática Robin Hood". Para conseguir se manter, o grupo fecha contratos com empresas e prefeituras, ao custo médio de R$ 4 mil por apresentação. "Isso permite que a gente leve espetáculos para a população carente", sustenta Vieira. "De cada seis apresentações, apenas uma é cobrada."
Além da "Saudosa Maloca" de Adoniran ("Veio os home c'as ferramentas/ O dono mandô derrubá/ Peguemos todas nossas coisas/ E fumo pro meio da rua"), a performance de hoje vai pincelar a história do próprio grupo.
Com duração aproximada de 20 minutos, a encenação musical será protagonizada pelos atores amadores do Tuov, que levarão instrumentos e apitos para o Palácio das Indústrias.
Outro álibi a ser usado por Cesar Vieira é o abaixo-assinado que somava, até ontem, 10,2 mil nomes. "Desde Lula até o presidente Fernando Henrique, todo mundo está apoiando a nossa causa", diz.
"Tranquilize-os de que não há temor de burocratas insensíveis, pois estou cuidando pessoalmente do caso, a pedido do prefeito", avisa o secretário de Negócios Jurídicos, Edvaldo Pereira Brito, 52, que promete uma solução até o início de fevereiro.


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