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MEMÓRIA
Mostra de filmes traz títulos como "O Cangaceiro", "Caiçara", "Uma Pulga na Balança" e "Na Senda do Crime"
MIS exibe cinema industrial paulista
JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas
Uma das vítimas de guerra da revolução do cinema novo, no início
da década de 60, foi o cinema industrial paulista dos anos 50 (sobretudo a Vera Cruz), que desde
então passou a ser estigmatizado
em bloco como "colonizado e acadêmico".
A Mostra Cinema Paulista de 40 a
60, que começa hoje no MIS, dá ao
espectador a chance de conhecer
ou rever essa cinematografia e
constatar sua riqueza, força e variedade.
No ciclo há um pouco de tudo:
comédia de Mazzaropi ("Nadando
em Dinheiro"), filme de gângster
("Na Senda do Crime"), drama escravagista ("Sinhá Moça"), comédia social ("Osso, Amor e Papagaios") etc.
Alguns títulos da programação
são grandes clássicos: "Caiçara"
(1950), de Adolfo Celi, crônica com
tintas neo-realistas filmada em
Ilhabela; "O Cangaceiro" (1953),
aventura "costumbrista" de Lima
Barreto, consagrada internacionalmente; "Simão, o Caolho"
(1952), comédia fantástica de Alberto Cavalcanti.
A mostra é também a oportunidade de conhecer o início da carreira de dois dos "autores" mais
importantes do cinema brasileiro
das décadas seguintes: Roberto
Santos e Walter Hugo Khouri.
Do primeiro, o ciclo exibirá "O
Grande Momento" (1958), seu filme de estréia, marcadamente influenciado pelo neo-realismo italiano e um dos grandes filmes realizados em São Paulo.
"Estranho Encontro" (1957), o
segundo longa-metragem de
Khouri, é um "thriller" existencialista em que já se mostrava a influência de Bergman que acompanharia a carreira do diretor.
Mas o que a mostra do MIS traz
de mais interessante é a possibilidade de ver até onde a "indústria"
cinematográfica paulista conseguiu chegar na tentativa de constituição de gêneros cinematográficos, a partir de uma leitura muito
particular dos modelos norte-americanos e europeus.
"Uma Pulga na Balança" (1953),
de Luciano Salce, por exemplo, é
uma comédia policial que parece
combinar a influência de um lirismo chapliniano com uma ironia
elegante à Lubitsch.
Uma outra linha de comédia é
"Nadando em Dinheiro" (1952), de
Carlos Thiré e Abílio Pereira de Almeida. Continuação do sucesso
"Sai da Frente" (1951), "Nadando"
é o típico "veículo" para o personagem do matuto criado por Mazzaropi, que desta vez fica milionário
graças a uma herança.
Com base nisso, o filme é uma
crítica da alta sociedade urbana a
partir da visão simplória do caipira: uma receita certeira para o êxito
popular.
"Na Senda do Crime" (1954), de
Flamínio Bollini Cerri, a despeito
de suas falhas de roteiro e de alguns diálogos artificiais, é um esplêndido policial, que busca uma
atmosfera "noir" nos prédios em
construção de uma São Paulo que
começava a se tornar metrópole.
Uma das maneiras de ver a mostra do MIS, aliás, é acompanhar,
por meio dos filmes, as transformações da paisagem paulistana
numa década (a de 50) de vertiginoso crescimento urbano.
Das avenidas do centro e palacetes de Higienópolis (em "Na Senda
do Crime") aos bairros populares
italianos (em "O Grande Momento"), São Paulo aparece pulsante e
multifacetada nesses filmes, que
não por acaso acompanham, merecidamente, a exposição "Memória Paulistana 1940 a 1960".
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